sábado, 26 de novembro de 2016

Não vai ser múmia

                      
Quando Fidel Castro derrubou o governo corrupto de Fulgêncio Batista em 1959 e  tirou Cuba das mão dos mafiosos dos USA, marcou para sempre a história da humanidade. As gerações atuais só podem avaliar os fatos e suas origens pelos livros de história. Como sempre, ficam as versões diversas, com as suas óticas e para quem quer tirar suas próprias conclusões. 

Naquela ocasião, eu cursava o ginásio no Instituto de Educação de Minas Gerais em Belo Horizonte e do meu lado sentava-se Maria Inês. Estávamos em plena puberdade. Não tínhamos muita intimidade fora da escola, ela nunca foi a minha casa mas eu fui várias vezes na casa dela. Inclusive por curiosidade porque era a mesma casa onde mamãe morou quando conheceu papai que morava na frente, na rua Ceará, 1015, Bairro dos Funcionários.
Ela tinha um irmão mais velho que era comunista e  lia livros que ele indicava e passava os nomes para mim. Eu era sócia da Biblioteca Pública, na Praça da Liberdade e tirava  os livros;          A Mãe de Goki, Judas o Obscuro de Thomas Hardy , Memórias de uma moça bem comportada de Simone de Bouvoir, etc e etc.
Nos horários vagos tínhamos boas conversas, a maioria sobre política mas a música também fazia parte. Ela tinha restrições a Elvis e dizia que ele era muito burro, era tal qual um cafajeste, era mulherengo demais e norte americano. Tudo que uma neo feminista não  perdoava. Eu sabia que ele era machista e, como se dizia na época, porco chauvinista mas ficava por isso mesmo.

Então, Fidel Castro e Che Guevara derrubam Batista e a conversa foi longe, os paredões com os fuzilamentos, o sangue qualhando no chão, os exilados saindo aos montes para Miami e deixando tudo para trás. Tornou-se definitivamente comunista e, mais tarde, morou em Paris acompanhando seu irmão que ficou exilado da ditadura brasileira.
Enquanto eu colecionava fotos de Elvis, ela colecionava retratos de Fidel Castro. E, quando eu encapei meu colecionador com uma foto do Elvis ela colocou no dela a foto de Fidel Castro sem barba. Nós duas fomos parar na diretoria, e ambas nos recusamos a tirar as fotos. Papai e o irmão dela foram chamados para  conversar com o diretor, Professor Mesquita.  Continuamos com nossas fotos. Uma bobagem porque eram fotos de jornal, em preto e branco que amarelaram, ficaram esmaecidas e nem sei que fim tiveram.

Para o mundo Fidel Castro e Che Guevara foram muito mais, marcaram a segunda metade do Século Vinte, foram pivôs de mortes, guerrilhas, revoluções, embates entre o capitalismo e o comunismo. Peões da Guerra Fria, joguetes da Rússia e seus interesses de dominação e quase motivo para uma guerra atômica. Cuba, um pedacinho de ilha de pouco mais de cento e sessenta quilômetros quadrados, uma população merreca, sem expressão a não ser no rebolado da salsa. Se não fosse a bandidagem dos EUA fazer da ilha um puteiro e terreno da jogatina nada teria acontecido. Se não fosse uma peça no jogo entre a disputa de duas potências e ter uma posição privilegiada, a cento e cinquenta quilômetros de distância da Flórida, seria um nada como tantas ilhas da Terra.
Mas sua localização e o jogo jogado pra valer fez de Fidel Castro muito mais do que ele foi, além do verdugo, do ditador e da mão de ferro que prejudicou tanto uma nação. Com um ego sem limites, tirou Guevera de Cuba, abandonou-o a própria sorte e usou sua melhor imagem para ilustrar uma revolução feia e mortal.

O resto é história, pois o ditador morreu hoje, com noventa anos,  e vai ser cremado o que é menos mal. Se tivesse morrido jovem e bonito como Guevara, na certa seria mumificado e colocado em câmara refrigerada para adoração de seus sequazes.

Ontem ditador, hoje pó e imagem fugidia na memória do tempo.

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