Mostrando postagens com marcador Mulher diferente. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Mulher diferente. Mostrar todas as postagens

domingo, 4 de setembro de 2016

Mulher e mulher

- Uia !
                                                    

Como hoje é domingo e as pessoas dão uma pausa nas contestações queria especular porque acham que eu sou homem, no mínimo sapatão. Não sei se isso acontece com outras mulheres.
Quando meu irmão dizia que era o único irmão entre cinco irmãs e alguém rebatia:
- Você tem cinco irmãs?!
Ele respondia:
- Isso na certidão de nascimento ! 

Papai tinha oito irmãos. Uma vez, reclamei com ele que estavam me chamando de general no meu trabalho e ele disse que eu devia estar satisfeita, tinha sido promovida pois  vovó Umbelina, sua mãe, era chamada de sargento. 

No Face não é raro ser tratada no masculino, quando alguém rebate um comentário meu. Depois que eu editei, nessa semana, que sou mulher, no topo da minha página, recebi uma mensagem de um homem dizendo que sempre pensou que eu fosse homem. Caramba!

Não fomos criadas para ser femininas, nenhuma de nós o é. Papai dizia que só veio saber que mulher come como homem depois que crescemos. Porque na frente dele, nos tempos de rapaz, as moças comiam como passarinhos e ele ficou espantado quando viu, em uma festa, pela greta da porta, uma moça comendo muito na cozinha.

Nossa educação foi tão dura quanto a do meu irmão. O pau comia e jamais ouvi frases do tipo , mulher não faz isso ou aquilo. Um exemplo é que, com dez anos fui deixada sozinha, na porta da Secretaria de Segurança, na Praça da Liberdade, em Belo Horizonte/MG para tirar o Atestado de Boa Conduta ( !! ) para fazer o exame de admissão no Instituto de Educação. Anos mais tarde, eu fiquei pasma quando vi um colega meu na Faculdade de Direito da UFMG, fazer a renovação da matrícula para o terceiro ano, acompanhado do pai. Desde os  meus 14 anos papai não fazia renovação de matrícula para mim!

Uma vez na faculdade, eu estava no quarto ano, fiz o quarto e quinto à noite porque trabalhava de dia, uma colega veio me dizer que um rapaz do terceiro ano estava dizendo que eu era sapatão, que nunca ninguém havia me visto com algum homem. Eu nunca namorei, paquerei, flertei, sequer via qualquer rapaz na faculdade sem que fosse como um igual. Nunca passou pela minha cabeça ter alguma coisa com advogado. Meu negócio sempre foram os engenheiros porque traziam novidades diferentes de mim, na forma de pensar e ver o mundo. O que eu ia fazer com um homem com pensamentos e inteligência semelhantes aos meus? E, nunca gostei da postura debochada do advogado e do médico. Gostava mesmo é da mentalidade de concreto armado do engenheiro, como diziam os estudantes de medicina.

Eu não podia permitir que um cara dissesse que eu era sapatão porque se isso espalhasse poderia trazer-me problemas. Isso, lá pelos 1970. O cara era amigo de um ex meu, que eu tinha tido um namorico de férias alguns anos antes e, mesmo apaixonadíssima por ele, não foi pra frente. Não sei se ele baseou-se em que minhas conversas com o ex eram sobre política, sociologia, literatura, que eu não lhe dei intimidade com um mês de namorico, sei lá, e que o cara me havia dito que comigo ele pisava em ovos. Nunca saberei. O fato é que eu o abordei no corredor, pedi a ele que fôssemos até mais embaixo, na Praça Afonso Arinos com Avenida Bias Fortes, em Belo Horizonte/MG porque eu queria falar com ele assunto muito sério. E, ele aceitou, todo fagueiro e sorridente. Lembro-me do sorriso desaparecer do seu rosto quando na virada da rua, sem ter ninguém por perto, eu o peguei pela gola da camisa, num cara a cara que até perdigoto espirra no rosto, e disse a ele, que se ele pensava que eu era sapatão, que soubesse que eu era muito macho para dar uma surra nele na porta da escola se ele continuasse a falar mal de mim. Que nunca mais falasse nada de mim. Agisse como se não me conhecesse. Que a partir daquele dia mudasse de lado quando passasse por mim. Ele não disse nada. Nada mesmo. Voltamos para a escola e ele nunca mais me olhou no rosto e passava rápido por mim.

Na mesma ocasião, quando eu dava aulas em uma escola, para crianças de sete anos, o namorado de uma outra professora dizia que eu era sapatão, que eu não tinha namorado. Jogava isso na minha cara, com sorriso debochado, sem que eu lhe desse a mínima intimidade para tal. Ele não sabia nada de mim. Talvez porque eu tinha um sapato de  camurça azul devido a música de Elvis, Blue suede shoes, e era um sapato fechado, talvez masculino que papai comprara para mim. Mesmo ele me vendendo muitas pulseiras de prata que ele trazia da cidade de Tiradentes para vender. Eu não levei em conta porque era um traste, um idiota, um medíocre absoluto mas ele parou de dizer isso quando eu o encarei no portão da escola bem firme nos olhos e com todos estes julgamentos, que eu fazia dele, saindo pelas córneas. Nem sei se parou de julgar-me  ou outra pessoa da escola. Eram uns bobos que estariam e estiveram na minha vida de forma ligeira, temporária e eu não tinha nenhuma ligação com nenhum deles que não fosse naquele local e hora.

Já cheguei a pensar, por outras ocasiões em que me fizeram esse julgamento, se eu era mesmo sapatão mas tenho tanto horror a mulheres, que sequer as abraço para o peito não encostar no meu. Como diz uma amiga, Sandra, não entramos em elevador que só tem mulher só para não correr o risco de sentir o cheiro delas. E, quem supita só de olhar para um retrato de Elvis Presley não pode ter nenhuma duvida que é mulher. Uia !