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sexta-feira, 29 de julho de 2016

A altura do brasileiro

Se quiser ver maior, klika na foto.

                                                          

Ainda sobre a altura do brasileiro, considerado baixinho pelos padrões da zoropa, achei essa foto interessante de quando fui a Coari no Amazonas. 

Foi meu terceiro Projeto Rondon, férias do início de 1971, programa do governo para os  universitários nas férias. Era voluntariado.  Em Coari fui para fazer palestras sobre a cidadania, importância do registro de nascimento, ajudar no Cartório de Registro Civil nos registros. Mas acabei, pela facilidade de expressar-me, fazendo palestras a pedido dos  estudantes de medicina e odontologia , sobre filtrar ou ferver a água, higiene pessoal, cuidados com os dentes. Até curativo eu fiz no pessoal que apareceu com anzol espetado na perna e o estudante de medicina tirou. Vi muita gente com lepra em estágio inicial e o estudante de medicina chorou quando viu aquele povo na fila. Pediu e conseguiu que o Exército mandasse médicos, remédios, antibióticos. Estes passaram por lá a caminho de atender algumas tribos indígenas onde mulheres haviam tido filhos. Um dos dentistas foi com eles e não voltou. Hoje eu penso que era olheiro da ditadura e quando viu que ninguém fazia política foi embora. Porque nunca falava com  ninguém, nunca fez nada, mal humorado e eu briguei com ele porque queria andar de cuecas pelo alojamento. Uma cueca amarelinha e furadinha. Achei falta de respeito conosco. Um dos rapazes me chamou de Madre Superiora mas eu não cedi.
Era uma casa improvisada com dois quartos para os rapazes e um para nós.Tudo amontoado. Vi a chuva torrencial dos trópicos, maravilha das maravilhas. Nadei no Rio Solimões. E, como eu tinha passado o Natal e o Reveillon em Guarapari, estava com a cor do Sol daqui. Quando perguntei porque me olhavam tanto eles disseram que  nunca tinha visto uma cor daquelas em uma pessoa. Eu disse que era cor de praia, dourada como só Guarapari tem.

Mas o que esta foto diz é a altura do pessoal. Eu era a pessoa mais alta da equipe e da cidade. Eles diziam que um fulano iria chegar e era  da minha altura. O chuveiro do alojamento batia na minha cabeça.Tudo bem. O detalhe é que eu tenho 1,67 de altura! Com o tempo comecei a me achar grande e gorda. Ficamos lá  quarenta dias. Quando o cara chegou, era quase do meu tamanho mas muito magro. 

Na foto apareço, carregando uma tartaruga com Terezinha, estudante de odontologia. A cintura da saia dela cabia na minha coxa!!! 
Foto tirada na  beira do Rio Solimões e o pessoal era o comum da cidade. Eu já estava na minha terceira participação e só usava roupa bem simples que jamais usaria em Belo Horizonte mas era para não chocar a pobreza como aconteceu da primeira vez em Itinga/MG.

Tenho coisas a bessa para contar mas a foto , com a altura do pessoal é o foco.

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Merecimento


Projeto Rondon em Coari / Amazonas. Eu, perto da borracha pronta para embarcar para o mundo ( Se quer ver maior, klika na foto)
                                

                                       
Às vésperas  do início das Olimpíadas do Rio, é preciso ter muito cuidado para acessar notícias. Os haters estão feéricos. Um ódio emanando dos dedos e das vontades, expressam suas revoltadas de butiquim. Se alguém ler uma dessas notícias tem a impressão que tudo está medonho, feio e sujo no Rio de Janeiro.Tem gente que odeia aquela cidade.

Enquanto isso, ao entrevistar alguém na rua, mesmo quem veio de fora para ver os jogos, as pessoas parecem satisfeitas.  São os dois tipos de pessoas, as otimistas que sabem viver a vida e os eternos mal humorados, colocando defeito em tudo.

Remonto-me aos meus tempos de Projeto Rondon, dos anos setenta. Nem todos queriam participar porque era executado nos recônditos de um Brasil fora do círculo bafejado pela sorte e os olhos do estado. 

Era um programa da ditadura para dispersar os estudantes nas férias e, ao mesmo tempo, mostrar aos universitários outras partes do Brasil. A participação era de graça, quem arcava com as despesas eram as prefeituras, alimentação e estalagem. Um trabalho voluntário, cada um em sua área de estudante. Eu fui a cinco operações seguidas. Eram nas férias de julho e janeiro. Foram grandes experiências e fui a lugares onde jamais iria. Conheci um Brasil brasileiro, onde a influência estrangeira não havia chegado. Ouvi música desconhecida em Belo Horizonte/ MG  improvisos musicais e artísticos, usos  e costumes diferentes, sotaques e expressões de linguagem, clima, arquitetura, modos de ver o mundo, etc e etc, e levei comigo, para eles, coisas que eles nunca ouviram falar.

Minha primeira participação foi em Itinga / MG, janeiro de 1970. Eu podia ir como estudante de Direito mas escolhi ir como professora porque os organizadores treinavam os participantes para alfabetização de adultos. Eu dava aulas como professora alfabetizadora e estudava Direito. Fiz um curso memorável e apliquei sua técnica em várias oportunidades em que, mais tarde, dei reforço para crianças com dificuldades de leitura ou alfabetização para adultos em canteiros de obras. Como eu poderia conhecer isso sem participar ? De uma utilidade sem tamanho.

Quando eu voltava, fazíamos reuniões para falar das férias. E, enquanto minhas amigas contavam suas viagens à Europa ou EUA, ou férias nas praias do Rio de Janeiro, eu contava minhas aventuras em um Brasil abandonado, a receber migalhas do estado brasileiro. Uma delas, Ana Maria , marcava a reunião e dizia que era para ouvir minhas histórias de ficção.

Quando uma pessoa participa de um evento maiúsculo como uma Olimpíada, um atleta atrás de medalhas e índices, se for mesquinho e não souber que o mundo é mais que o trajeto de sua casa para o Centro de Treinamento, que o mundo é diverso, diferente, talvez sem as lantejoulas do seu mundo mas merecedor de  participar  da festa da humanidade, sua medalha não vale nada.