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quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

De quê lado ?

Sean Connery
                                     


Só não envelhece quem morre cedo. É um ditado que  muitos não acreditam. E a discriminação contra os velhos é de corar o capeta. Mas como nenhum reclama, fica o deboche, circulando sem pena, atinge até quem tem trinta anos e vive o jogo da mocidade sem freios.

Mais comum é mostrar as mulheres envelhecidas. Colocam fotos quando jovenzinhas e hoje com noventa anos. Um escracho que poupa os senhores.

Para os jovens fica a informação: Não percebemos o envelhecimento. Até ficarmos parecidos com nossas mães, pais ou algum parente identificado no espelho e que nos parecia velho da silva.

Então, levei um susto quando vi uma foto de Sean Connery com seus oitenta e tantos anos. Ele é de 1930. Um grande ator que acompanhou nossas vidas com filmes eternos.

Mas queria chamar a atenção para um detalhe da diferença dos efeitos do passar a vida para uns e outros. Ele é do mesmo ano que Clint Eastwood que continua firme, fazendo filmes e dando demonstrações de saúde e produtividade, junto com seus inúmeros filhos e netos.

E daí? A vida é diferente para todos nós e em algum em particular. Mas só estou conversando com os meus botões para saber de que lado estou.


Clint em 2019, 89 anos, lançando o filme A mula
                                   

                          

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segunda-feira, 14 de maio de 2018

Decadência

                             
A pior coisa é aceitar que está envelhecendo, ficando velho, perdendo a juventude. O que se faz para fingir que não é o mesmo da mocidade, que as forças estão indo embora, que tudo vai ficando mais difícil não tem limites.
Quando mamãe fez cirurgia de catarata e olhou-se no espelho, ela disse que levou um susto com o que viu. Papai sorria satisfeito quando contava que na portaria do prédio da minha irmã, o porteiro pensou que ele fosse irmão dela. No filme Tudo a Ganhar a mãe da personagem principal diz que, quando se olha no espelho não se reconhece.

Estou chegando nessa fase. Velha metida a moça é alvo de pessoas que estão prontas para agredir gratuitamente. Sempre encontram uma forma para lembrar que a pessoa está velha. Nem que for indicando a fila dos velhos no supermercado. Ver os outros envelhecerem com saúde é uma tortura para quem cai pelas tabelas desde quando fez trinta anos.

Mas o pior é quando as forças físicas não são as mesmas. Eu fazia dez coisas ao mesmo tempo. Tinha um preparo físico que dispensava ajuda para isso ou aquilo. Um exemplo é quando estava grávida de oito meses do Marcus, o gás acabou e eu tive que levar o botijão no muque, escada acima  porque o cara da revendedora não o fez. Para não discutir com ele, e percebendo que ele abusava por eu estar grávida e com o sorriso nos olhos, querendo colocar-me no meu lugar, peguei o botijão e levei escada acima.

Tive uma empregada muito frágil que procurava não limpar o chão da casa. Em uma manhã varri a casa toda, passei o pano com detergente e encerei. E, na boa, suando pra caramba porque o calor e a umidade é muita nesse lugar, mas não tive problema algum. Hoje, no máximo faço isso cômodo a cômodo.

Subir as escadas da Cidade Alta, em direção ao Forum, de dois em dois degraus era moleza, mesmo grávida. E sem resfolegar na chegada ao topo.
Hoje, faço minha caminhada e quando subo  o morrinho aqui perto de casa ou as escadas da academia, tudo  bem rápido mas degraus um a um, na terceira vez já coloco os bofes pela boca.

De manhã já levanto mais lentamente com vontade de ficar deitada, lendo ou dormitando. Ao levantar e ainda sentada na cama, preciso fazer ginástica com os pés porque podem ficar com fascite ou eu andar devagar até o aquecimento.

Vejo processos desde 1970 e guardava tudo na cabeça. Mesmo com os arquivos de sempre. Em um tempo em que não havia cópia xerox e as petições eram datilografadas com três cópias e papel carbono, as informações jurídicas estavam na capacidade de compra de livros e coletâneas de jurisprudências, a memória sempre foi um diferencial. Uma advogada, formada há pouco tempo, disse que tenho memória de elefante e eu fico pasma por ela não ter memória alguma. Mas sinto que preciso correr o alfabeto todo até  lembrar-me de uma palavra ou outra.

Estou ficando velha e isso é a ponta do iceberg. Sinto minha cabeça esfumaçando, pinicando, alguma coisa está acontecendo. Mas o pior mesmo é achar que Elvis já era, está ultrapassado como figura masculina e já morreu há tempos demais.

Caramba ! Envelheci. Como dizia mamãe, estou muito decadente...

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

A luz no fim do túnel

- Só observando ...
                                   
Para quem morre cedo perde a oportunidade de observar, senão viver, o envelhecimento de uma pessoa.
Eu estou envelhecendo. Estou negando, tentando olhar para mim mesma e não ver que , cada dia mais, pareço com mamãe. Eu vi uma foto dela quando tinha seis anos e a minha, na mesma idade, é capaz de ser confundida.

O envelhecimento começa a ser percebido quando alguém lhe chama de senhora. Eu tinha trinta anos quando isso ocorreu pela primeira vez. Posso admitir que foi porque apresentei-me como advogada, não sei. Mas é um choque.
Outro sintoma é quando você  vai dar lugar a uma pessoa mais velha e percebe que é da sua idade.
Caramba, e quando se chama alguém na rua, na fila do banco de senhora ou senhor e percebe que é mais novo!
Mas o terrível é, de repente uma pessoa da sua idade, com ares de jovenzinho, dizer que você é velha. Isso ocorreu comigo há tempos, um dono de uma  casa de computadores, mais velho do que eu, entre cinquenta e cinco/sessenta anos, estava aos beijos com uma mocinha, atrás do balcão. Quando pedi a cópia de uma conta de telefone, ele me pediu o meu CPF. Eu respondi que era somente a cópia e não precisava mostrar nenhuma documentação. Ele passou a me dar aulas sobre a necessidade de identificação para protegê-lo, sei lá do que. Pedi o documento de volta para tirar a cópia em outro lugar , agradeci, disse que não precisava dar aulas a seu vigário e fui saindo. Quase chegando na porta da loja e de costas, ouvi ele dizendo alto:
-Velha...
Virei-me, encarei-o e disse;
- Tomara que fique velho, com saude mental para não dar vexame por aí.
E fui embora.
Foi a primeira vez que alguém me chamou de velha. O trauma foi tão grande que nunca me esqueci. Passo na  frente na loja e evito olhar para dentro.

A caminho da morte não é fácil. O mundo nos diz a toda hora. Depois essa gente reclama de bobagens. Esperem, porque nunca termina.

domingo, 8 de julho de 2012

Velho, idoso e livre: triple age

                                        
Pessoas contrárias à leis que punem discriminação, ou são alienadas ou sortudas. Talvez sejam privilegiadas ao  nascerem comuns, sem destaque de monta para chamar a atenção da maldade humana, condição de certos indivíduos que se comprazem em punir quem lhes apetece por contrariar seus olhares seletivos. Uma sociedade livre tem que punir quem discrimina quem foge ao óbvio exigido pelo sistema manipulador. É um néscio.

O negro sabe que é negro e o velho sabe que é velho mas a ofensa não muda quando assim é chamado porque o é. A pessoa fica ofendida porque percebe a discriminação , a maldade, o objetivo torpe do ofensor em machucar seu ego, sua alma, sua condição.

Minha geração foi, no total da população brasileira, o maior número de crianças, depois adolescentes, adultos e agora caminha para ser uma população de idosos a flutuar no total dos quase duzentos milhões de habitantes do Brasil.

Preciso preparar- me para ser chamado de velha sem me ofender. Em uma sociedade pautada pelo sentimento de vaidade e olhares destrutivos, ser velho pode ser uma condição que incomoda. Com saúde e independência, talvez machuque gente mais jovem depenada no corpo e na alma. São os que  , talvez, não dobrem o meio século de idade mas possuem o sentimento de serem  melhores por ainda não terem vivido um tempo que outros já viveram.

Quem não quer envelhecer, que morra cedo!