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sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Um ícone, um imortal

                                   
KLIKA 

Belo Horizonte / MG, nos fins dos anos sessenta,princípio  dos setenta, estava infestada de bossa nova e roquinho ieieie. Elvis era como se fosse proibido tocar pela ditadura. Recusei-me a aceitar os chatíssimos Beatles. Até hoje tenho arrepios quando ouço o , para mim, insuportável Chico Buarque. Preferi bandear-se para a música clássica e  conheci, pessoalmente, vários pianistas da época mas meu preferido era Arthur Moreira Lima e suas performances de Chopin. Minha coleção de discos clássicos ficou ótima pois , ganhei a coleção da Tia Mimita quando ela morreu. Ela tocava Chopin, no seu piano preto de meia cauda, enquanto eu lia Casimiro de Abreu. 

Então fui para o Projeto Rondon - 5, Itinga,  no sertão de MG. No fim da tarde, o pessoal reunia-se na frente do hotel para cantar enquanto a poeira assentava-se no chão e o cheiro do curral chegava nas narinas acostumadas. Para mim, era a concretização do que eu ouvira falar. Tudo absolutamente novo. Um anão tocava um violão, que ele mesmo fizera, com cordas de pescar.Um sertanejo marcava o ritmo com duas colheres voltadas uma para outra e batidas na mão. Não cantavam bossa nova nem os acordes de Tom Jobim e Vinicius, unanimidade nos meios intelectualizados e empafiados do sudeste. Cantavam Amado Batista e Waldick Soriano. Nunca tinha ouvido falar neles. Mostraram-me os discos. Amado Batista é Roberto Carlos sem as lantejoulas. Mas tornei-me, fã de Waldick Soriano.

Depois, quando andando pela Av. Copacabana, ou N.Sra. de Copacabana, no RJ, onde era infestado de artistas e cantores, dei de cara com Waldick Soriano. Devia ter um metro e noventa, ombros largos, chapéu, óculos imensos  e terno preto, muito elegante. Não sei se era o Sol que iluminava a rua ou era sua figura.Exclamei seu nome e ele deve ter percebido minha surpresa total. Parou, sorridente, e, quase cai quando ele deu-me  um abraço. Uma figura fantástica, imensa, uma presença iluminada que eu jamais me esqueci.

Sou fanzérrima de Waldick Soriano. Faz-me lembrar aqueles dias que passei no sertão.Tenho um seu disco que considero um dos melhores da música brasileira. Nesse disco, no seu lançamento, tem a canção Obrigado querida, que é fantástica em todos os sentidos, na composição da letra e música, nos arranjos, nos solos dos instrumentos , nas modulações da voz do cantor. 

Quando já no fim da vida, gravou um DVD mas sua voz não era mais a mesma porque estava muito doente. A vida passa e leva o brilho da juventude. 

Se eu não tivesse ido ao Projeto Rondon nunca teria conhecido uma parte do Brasil que muita gente insiste em desconhecer . Ou, talvez, discrimine porque não entende, não conhece.

Waldick Soriano fala na sua música o mesmo que Roberto Carlos, Frank Sinatra, Charles Aznavour e , mesmo, Elvis. E, sua voz não fica aquém de nenhum deles. Como eles, é eterno. Noventa e nove por cento das letras ninguém sabe o que diz. Então, se fixar no som como é feito nas músicas estrangeiras, fica ótimo. 

Cantando RC: Aqui
Vingança, de Lupicínio : Imperdível

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