Meu avô paterno, Vovô Vicente, era médico. Estudou em Ouro Preto, quando era capital de Minas Gerais e depois no Rio de Janeiro onde formou-se em medicina. Meu bisavô fundou a Santa Casa de Pium-í e precisava de um médico. Depois, foi um dos fundadores da Escola de Medicina de Belo Horizonte, já capital. Recebeu medalha de pioneiro na construção de Belo Horizonte e como médico pela CRM/ MG.
Pois bem, um dia, já na casa dos oitenta, noventa anos (Morreu com 106) foi visitar-nos. Para agradá-lo, coloquei alguns discos. Elvis é claro, e outros tantos. Eu me dava muito bem com ele, conversava numa boa e ele se admirava de eu entendê-lo sem problemas pois havia tido câncer na laringe e não tinha cordas vocais. Para mim era como se ele falasse baixinho. E, tanto era que, quando, ao encontrá-lo na rua, o apresentei às minhas amigas, uma delas comentou que ele era muito educado pois falava baixinho. Comentara com papai que gostava de conversar comigo pois não havia barreiras em nossas conversas e falávamos de muitos assuntos. Eu gostava de falar sobre o seu tempo e foi importante na formação das minhas idéias sobre o feminismo. Ele dizia que viveu no tempo em que as mulheres arrastavam a saia na poeira e não se via nem os tornozelos e pegou a mini saia. Também que uma moça na janela era motivo para ficar falada na cidade. Contava casos de moças que eram encomendadas para casar, sem nunca ter encontrado com o rapaz, e, que o noivo era apanhado de surpresa no dia do casamento pois a moça combinada não era a noiva. O noivo descobria quando levantava o véu de filó, escondendo o rosto da noiva. Nossas conversas foram importantes para a minha decisão de não usar vestido de noiva, não entrar com papai na igreja e manter meu nome de solteira quando isso não existia.
Então, quando nossa conversa ia longe eu coloquei o disco de Ray Connif com a música La Paloma. Qual não foi a minha surpresa quando ele emocionou-se ás lágrimas e pediu para tirar. Quando pedi a ele que me contasse o que lembrara ele disse que lembrou-se da moça, em Ouro Preto, que ele namorava na janela e que ela ía até o piano e , da rua , ele a ouvia tocar La Paloma, para ele.
Oh, vida !
Com Ray Connif : KLIKA
Com Julio Iglesias: KLIKA
Com Elvis: KLIKA
Ouro Preto. De sempre |
Um comentário:
Olà! Fiquei emocionada ao ler seu texto. Veio em minha memória a figura do vovô, calmo, cordato sempre interessado no que fazíamos e disposto a um bom papo. Bonito, alto, elegante(lembo-me dele de terno branco e bengala andando pelo bairro do Carmo). Diziam os filhos( 7 homens) que era um conquistador nato. Uma das músicas que ele sempre colocava para eu ouvir e que dizia ser uma de suas favoritas era La mer. Sempre que ouço lembro-me dele. Enfim ...foram tempos bons , inocentes em que se vivia a família de um modo bem gotoso. Bjs. M.I.
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