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sábado, 31 de outubro de 2015

La Paloma

                             


Meu avô paterno, Vovô Vicente, era médico. Estudou em Ouro Preto, quando era capital de Minas Gerais e depois no Rio de Janeiro onde formou-se em medicina. Meu bisavô fundou a Santa Casa de Pium-í e precisava de um médico. Depois, foi um dos fundadores da Escola de Medicina de Belo Horizonte, já capital. Recebeu medalha de pioneiro na construção de Belo Horizonte e como médico pela CRM/ MG.
Pois bem, um dia, já na casa dos oitenta, noventa anos (Morreu com 106)  foi visitar-nos. Para agradá-lo, coloquei alguns discos. Elvis é claro, e outros tantos. Eu me dava muito bem com ele, conversava numa boa e ele se admirava de eu entendê-lo sem problemas pois havia tido câncer na laringe e não tinha cordas vocais. Para mim era como se ele falasse baixinho. E, tanto era que, quando, ao encontrá-lo na rua, o apresentei  às minhas amigas, uma delas comentou que ele era muito educado pois falava baixinho. Comentara com papai que gostava de conversar comigo pois não havia barreiras em nossas conversas e falávamos de muitos assuntos. Eu gostava de falar sobre o seu tempo e foi importante na formação das minhas idéias sobre o feminismo. Ele dizia que viveu no tempo em que as mulheres arrastavam a saia na poeira e não se via nem os tornozelos e pegou a mini saia. Também que uma moça na janela era motivo para ficar falada na cidade. Contava casos de moças que eram encomendadas para casar, sem nunca ter encontrado com o rapaz, e, que o noivo era apanhado de surpresa no dia do casamento pois a moça combinada não era a noiva. O noivo descobria quando levantava o véu de filó, escondendo  o rosto da noiva. Nossas conversas foram importantes para a minha decisão de não usar vestido de noiva, não entrar com papai na igreja e manter meu nome de solteira quando isso não existia.

Então, quando nossa conversa ia longe eu coloquei o disco de Ray Connif com a música La Paloma. Qual não foi a minha surpresa quando ele emocionou-se ás lágrimas e pediu para tirar. Quando pedi a ele que me contasse o que lembrara ele disse que lembrou-se da moça, em Ouro Preto, que ele namorava  na janela e que ela ía até o piano e , da rua , ele a ouvia  tocar La Paloma, para ele. 

Oh, vida ! 

Com Ray Connif : KLIKA
Com Julio Iglesias: KLIKA
Com Elvis: KLIKA

                                     
Ouro Preto. De sempre

                                                   

domingo, 3 de novembro de 2013

Biografias não autorizadas

                                         
   
Eu até entendo este pessoal famoso com medo do que possa ser escrito sobre eles. Às vezes as pessoas fazem algo, o tempo passa, as gerações mudam e o foco do entendimento também.

Periga muito um autor de biografia não conseguir transmitir a seus leitores o tempo,  os costumes e a interligação na roupagem de um tempo quando o da época da publicação é outro. As mudanças geram pessoas mais conservadoras ou mais permissivas.

Eu me lembro, por ex, que quando eu me casei ninguém casava-se de vestido branco de noiva. Eu tive a convicção que estavam abolidos , definitivamente, das festas de casamento. Hoje, estarreço-me com o auge desse costume ridículo e como gastam fortunas em casamentos fadados à derrota. Quando passo em frente a um cartório de registro civil e vejo uma  noiva, toda vestida naquele traje nada a ver, alugado com sacrifício, à espera para ser atendida sinto ânsias de subir em um tamborete e fazer discurso contra a estupidez humana.

Talvez seja disso que os biografáveis tenham receio: Que seus biógrafos não consigam passar a verdadeira razão de uma pessoa fazer ou deixar de fazer algo. Talvez fiquem limitados a contar fato que não é simples fato mas estilo de vida nascido das convicções personalíssimas.E, nem sempre seguindo a manada.