Muita gente, muito bloco. Uniforme. |
Para os pobres sempre se cogita o meia-boca. Sejam casas, escolas, carros, serviço de saúde e o quê mais. Entretanto, sequer precisa nada megalomaníaco mas apenas o simples, no capricho.
A prestação de serviço do Programa Mais Médicos segue esse comum, o planejado. O enfoque sempre é o da ajuda. Nunca passa pela obrigação de prestar o melhor serviço para a população.
Vou fazer uma comparação com os dentistas. Eu fui advogada de uma seccional de Conselho Regional de Odontologia. Um dos conselheiros tinha por programa e dedicação o combate ao dentista prático. Assim, fizemos um plano, com fiscal voluntário, dentista engajado na mesma luta e montamos a parte jurídica. Viajamos pelo estado para autuar, com perigo pela reação dos práticos e falta de apoio dos delegados. Em um caso, corremos risco de vida.
Mas não contávamos encontrar resistência no Ministério Público, delegados e até juízes. Precisamos fazer caravana composta do presidente do CRO regional, fiscal, alguns conselheiros e eu até o presidente do Tribunal de Justiça, do procurador do MP e Secretário de Segurança para pedir apoio. Levamos um susto quando o discurso de todos era que devíamos aceitar o prático porque atendiam onde não havia dentista, fazendo um serviço importante.
Tivemos que formular um discurso que o prático era o exercício ilegal da profissão, que cometiam crimes como lesão corporal e até sépcia importante. Foram providenciadas fotos de consultórios absurdos na absoluta falta de higiene. Pedreiros, motorista de ônibus, vendedora de loja, lavador de carros estavam entre eles.
Um caso foi um casal de gays que viajavam pelo Brasil em um ônibus adaptado, com o leito no fundo. Usavam água em baldes, coletado em torneiras públicas. Eles paravam nas ruas e atendiam uns e outros. Foram presos em flagrante e saiu até no jornal. Nem sabiam o que era esterilizar.
Foi degradante ver uma autoridade máxima do estado defender o absurdo e tentar convencer o presidente da classe a deixar prá lá.
Não foi deixado, mas argumentado exaustivamente que dentista é uma profissão científica como é a medicina ou o engenharia, precisando de conceitos universais do saber e não da improvisação.
Assim, quando vejo as defesas do atendimento médico aos necessitados, aos abandonados nas periferias do Brasil, com médicos improvisados, sinto um cinismo enorme do poder , das autoridades de um governo vagabundo que usa do bom e do melhor na saúde para si mesmo mas fornece o a menor ao povo usado e abusado pelo discurso falso e pegajoso.
Lembra-me a figura dos poderosos que comiam nas mesas fartas, com as sobras para os escravos. Ou para os serviçais com porta divisória no ambiente familiar. Para não ser radical e citar as migalhas jogadas aos cães, esperando sentados no chão.
Não sei quem são os médicos cubanos. Eles também estão atrás da vida e merecem respeito. Mas precisam sim exercer sua profissão, passando pelas mesmas exigência de qualquer profissional, na sua área e campo de atuação.
Dizer que a população abandonada não tem assistência médica regular e por isso merece ser atendida por médico improvisado é o mesmo que aceitar o dentista prático como solução para a saúde bucal.
O Brasil e os brasileiros são muito mais do que isso.
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