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domingo, 8 de maio de 2016

Como funcionam as lideranças petistas

- Pode haver duas pessoas mais diferentes? Essa barba, arruivada, Eldes deixou crescer, só para ver a minha reação mas tirou antes de voltar para Vitória. 1971
                     
Eu era Chefe do Setor Jurídico, contencioso, de uma autarquia estadual do ES. O cargo é comissionado. Havia ( E, ainda há ) uma associação de funcionários ligada à CUT e, consequentemente o PT.
Os princípios da existência de cargo comissionado - direito administrativo -  é porque o  executivo precisa ter uma pessoa de sua confiança e deve ser preenchido por quem tenha condições de exercê-lo com capacidade de fazer mudanças necessárias e incrementar as ações sem ter os privilégios legais dos concursados. Seus vencimentos são fixos e não há parcelas trabalhistas quando exonerado do cargo. Se ocupado por efetivo, este recebe um percentual a mais que, depois de dois anos, incorpora o salário. O advogado não tem contato com o público, não participa das práticas do dia a dia do funcionamento do órgão.

Toda vez que havia greve na autarquia o Diretor Geral contratava advogado de fora para atuar. Quando chegou a minha vez eu disse ao DG que não precisava gastar dinheiro com advogado porque já tinha um. Estourou a greve com toda a bandalha petista, fazendo festa na porta da autarquia.
Os advogados do setor jurídico despareceram. Ficaram em casa e abandonaram os processos com seus prazos , defesas e audiências.
A primeira coisa que eu fiz foi levar os processos na casa dos advogados para eles elaborarem suas peças, fazer as audiências. Para um que disse não ter máquina de datilografia, levei a minha.

Ao entrar no prédio da entidade, encontrei um grupo, barrando a entrada. O DG, já estava lá dentro.Madrugou para não ser linchado ( Ele mesmo me disse ).Fui entrando, como se não soubesse de nada e o presidente da associação partiu pra cima de mim.Ficou cara a cara mas eu continuei andando em direção à escada de acesso ao prédio. Enquanto eu andava, e,  ele colado em mim, andava de costas. Eu fui fazendo pressão em seu peito com a ponta dos dedos para ele não me peitar de fato.Enquanto ele, furibundo, vociferava eu não ouvia o que falava. Ele não fazia ideia mas eu pensava que ele era muito fofo, diferente dos homens que eu conhecia que eram todos com bons músculos peitorais.( Cada coisa! )

Ao que eu atingi a metade da escada, que tinha o corrimão livre para se ver a entrada, com o bando petista gritando, batendo palmas com palavras de ordem,insinuando que eu era homem, eu parei  no meio da escada e os encarei. Surpresos, fizeram silêncio. E eu disse, em voz alta, que a ofensa feita a mim  seria o preço do final da greve.Que eu iria acabar com a greve deles. A gritaria foi tão grande que a imprensa noticiou, dizendo que eu pagara o preço por ser fura-greve. Jornalista é o povo mais ignorante do planeta e não sabe nada de nada. 
Quando cheguei no topo da escada, minha adrenalina estava a mil. Pensei que ia ter um infarte. Mas meu temperamento é o bicho. Ali, de supetão, tive  a forma de como acabaria com a greve. Fui ao DG, ele estava apreensivo comigo, muito nervoso. Ele também era advogado, depois foi promotor de justiça. Disse a ele para me dar uma procuração para impetrar um Habeas Corpus para eu poder exercer meu direito legal de ir e vir, de trabalhar. Na hora, ele deu duas procurações, uma para mim e outra para todos os comissionados. Enquanto eu redigia a petição, ele mandou tirar fotos do pessoal na porta e de um portão com um cadeado ( que não tinha nada a ver com nada) para integrar o pedido.

Tive sorte pois o HC foi distribuído para a Vara Criminal , cujos juiz e promotor foram também advogados, junto comigo, em um escritório onde trabalhei quando cheguei em Vitória/ES. Eles adoraram, ambos haviam sido advogados combativos.Voltei para a autarquia com o mandado nas mãos. Passei antes na delegacia, no mesmo quarteirão, expliquei pro delegado a situação e ele mandou um PM me acompanhar. Pedi ao PM para ficar no portão e só agir ao meu sinal, se fosse necessário.
Quando entrei, a malta partiu pra cima de mim aos gritos de pega pega o sapatão. Vi , de soslaio na minha visão periférica, a farda cinza do PM ao meu lado mas ele não fez nada.Não posso descrever o meu sentimento de vitória, quando levantei o papel   e disse: -Tenho ordem judicial. Está aqui a cópia.(Entreguei para o primeiro que vi na minha frente). Quem tocar em mim, vai preso. Como se fosse uma bomba eles calaram e recuaram.Subi com a gritaria atrás de mim.
Resumindo, impetrei HC para todos os comissionados, consegui uma ordem de desobstrução da entrada, deu no jornal, com o nome dos juiz e promotor, o meu e todo um texto arrasador. Eles mandaram um dos membros da associação conversar comigo na minha sala.Então, argumentei com ele que estavam usando uma forma ultrapassada de reivindicar aumento de salário, que eu não era funcionário de linha de frente mas advogado, que eles deixaram passar oficial de justiça e as publicações no Diário da Justiça continuavam, que a entidade e o dinheiro do povo estavam em primeiro lugar, que éramos funcionários de órgão público. Blá, blá, blá? A greve acabou e eu falei ao DG que o pedido de aumento era justo, negociou com o presidente da associação numa boa e o aumento foi dado. O meu cargo teve um aumento muito maior, eles tiveram um ataque mas o governador não cedeu.

Estou relatando isso porque uma amiga de blogue e Face me pediu que eu fosse contando minha peripécias políticas. Essa é pinto perto de outras. Nessa época, Eldes já tinha morrido e algumas unhas da onça já tinham caído.

No Brasil não se pode ter medo de nada.Ainda mais que essa gente não espera reação e recua quando encontra. E, o prazer de ferrar essa gente? Não tem preço.