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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Mulher no volante

                              
Ninguém pode falar que conhece o Brasil. Um país tão grande e diversificado? Duvido. Vou contar o que passei em Ecoporanga, cidade ao norte do Espírito Santo. É certo que foi há dez anos. Mas tirem suas conclusões.

Eu saí de Vitória/ ES, a trabalho, com carro do patrão, FIAT Uno, um ponto zero. Para não ter despesa  com pagamento de motorista, eu fui dirigindo. Segui em frente a caminho de uma cidade que eu não conhecia. Quase trezentos quilômetros. Um solão de rachar e sem ar condicionado no carro. Saí cedo e fui direto, sem parar. Na ida, foi tudo bem.

Ao chegar na cidade, parei em um sinal, em uma pracinha. Então ouvi vozes masculinas, gritando palavrões e palavras como piranha, vagabunda, puta, vai pro tanque lavar roupa, vai esquentar barriga no fogão. Eu fiquei espantada e pensei a quem eles xingavam tanto. Procurei, olhei prum lado, outro e vi à minha direita um grupo de homens me olhando. Começaram a fazer gestos obscenos, bater nos órgãos genitais. Então eu, pasma , percebi que era para mim!
O sinal abriu e eu fechei a cara e olhando em frente  segui, debaixo de assobios e apupos.

Logo em frente vi um posto da polícia militar. Parei, desci e  entrei. Tinha dois rapazes de farda. Um sentado a uma mesa e outro de pé. Dirigi-me ao que estava de pé, dei bom dia e perguntei se, por gentileza, podia dizer-me como chegar à delegacia. De forma grosseira, perguntou-me se ali era posto de informação. Respondi que eu era advogada, de Vitória  e precisava chegar até a delegacia. Ele disse que eu perguntasse alguém na rua porque ali não era posto de informação para atender advogado e não tinha obrigação de saber. Aí o bicho pegou. Disse a ele que eu era de fora, não conhecia a cidade, pensei que a policia seria o melhor lugar, mais seguro e confiável para informar-me, que ele estava sendo grosseiro, que era o caos a polícia militar não saber onde ficava a delegacia e qual é o seu nome, por favor. Antes dele responder, o que estava sentado, levantou-se, chegou até à porta e mostrou-me como chegar à delegacia. Parabenizei o rapaz pela educação, agradeci e fui embora. Ufa!

Ao chegar na delegacia para entregar uma Queixa Crime, havia um homem sentado, atrás de uma mesa de recepção. Apresentei-me como advogada e perguntei a quem entregar minha peça, se eu podia falar com o delegado. Ele respondeu, muito grosseiro, que era investigador, que se eu era advogada, devia saber que ele podia receber minha Queixa Crime, que nem precisava ser por escrito mas fazer um  BO. Perguntei se o delegado estava. Ele respondeu muito bravo que o delegado não estava. Pedi a ele que recebesse minha peça, carimbasse o recebido na cópia. Perguntou de que se tratava e quando respondi ficou ensandecido e recusou-se a receber. Eu, sem entender nada, perguntei qual o seu nome e se recusasse queria que ele me desse um documento com a recusa. Então, ele pegou a petição, leu, olhou para mim fixamente por alguns minutos, recibou a cópia, agradeci e voltei para o carro.

Saí da cidade, de volta, rumo a Vitória, pelo mesmo caminho. Lá fui eu pela estrada quando percebi um carro vermelho atrás, com os faróis piscando muito.  Ele emparelhava comigo mas não ultrapassava, voltava para trás e ficava colando na minha rabeira. Eu não estava com as portas mal fechadas, não estava de farol aceso, não havia nada por perto. Então percebi que poderia ser um assaltante, um perigo e entrei em uma estradinha de terra à minha direita e segui até sumir a estrada principal. Esperei um pouco.Voltei e segui em frente.

Pouco depois apareceu um caminhão que começou a forçar para que eu aumentasse minha velocidade, colando na minha traseira. O carro em que eu estava não era meu, um carro de baixa cilindrada e eu não faria e não fiz mais de noventa ou cem. Uma pista de ir e outra de voltar, isto é, duas pistas. Então, entrei no acostamento para dar passagem ao caminhão. 
Parei o carro para dar um tempo. Quando voltei, ele estava me esperando lá na frente. E, começou o terror. O cara acelerava na faixa pontilhada e diminuía na contínua. Ou vice versa. Quando eu tentei ultrapassar ao que ele diminuiu o passo de cágado na faixa pontilhada, ele acelerou e vinha outro carro. E fomos assim por alguns quilômetros. Então, percebi que ele  tinha diminuído na faixa contínua. Meti o pé no acelerador e... Na frente era um posto rodoviário e tinha um guarda que apitou para eu parar. O motorista do caminhão deu uma buzinada longa e se foi. 
O guardinha me mandou descer, me deu uma bronca porque ultrapassei na faixa contínua, sem diminuir a velocidade na frente de um posto rodoviário.

Então eu tive um ataque de raiva. Sapateei no chão, de verdade, dizendo que eu estava sendo perseguida pelo caminhão, que tinha acelerado para me proteger, que não podia ser multada, que a lei me permitia tomar decisão contra a lei para me proteger de um perigo. O rapazinho não quis saber e baixou a multa. Eu comecei a falar pelos cotovelos, dizendo que ele não estava entendendo, que devia ir atrás do cara, relatei rapidamente o que ele fez. Como ele  não se abalou eu parei uns minutos  para me acalmar e antes de entrar no carro disse que ele se preparasse porque iria acudir um desastre ainda naquela tarde, porque eu ia fazer mais de cem e pegar o cara lá na frente. Ele respondeu que eu tivesse calma, fosse com cuidado para não ser multada novamente.

Quando a multa chegou e o patrão quis que eu pagasse eu respondi que não ia pagar nem com revólver na cabeça.