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quarta-feira, 5 de abril de 2017

A César o que é de César

- Meu casamento
                                  

Eu sou feminista e, por assim ser, fui muito discriminada. Podia ter sido esse tipo que lamuria, faz drama, choraminga e nada faz de concreto. Tem gente que trata o ser mulher como sintomatologia de doenças ou incapaz, como os loucos de todos os gêneros. Está rindo? Pois foi assim até 1961 e esta expressão é da lei. 

As amarras do sistema escravizam homens e mulheres. Nunca fiz parte de quem protesta contra agressões a mulher. Faço parte da facção que defende ser a luta contra assédios sexuais, agressões e ataques criminosos, obrigação e dever de quem sofreu esses atos. Não tem cabimento alguém, que nunca sofreu isso, puxar protesto, fazer parte de movimentos agressivos, enquanto as interessadas dormem em berço esplêndido. Se são pessoas fracas que admitem um homem meter a cara com elas, que procurem reação nelas mesmas. Usar a força moral de quem sabe impor-se, também é uma violência.
Falo isso com propriedade porque fui presidente  de grupo feminista, sofri agressões públicas e privadas, inclusive de mulheres. É mais fácil um homem defender uma agressão desse tipo do que uma mulher. Aliás, nesse momento , não me lembro de mulher alguma, dando passo a frente mas lembro bem da fisionomia e das atitudes de alguns homens. Pelo contrário, mulheres me abandonaram na planície e isso, na guerra, é considerado traição.

A mulher não é feminista e nem feminina. A mulher é a fêmea da espécie humana, do homo sapiens e evoluíram juntos. Mas o sistema, as conjunturas, as circunstâncias da vida, as peculiaridades forjaram as diferenças no tratamento social. Ninguém é santo ou demônio nessa história. A formação do XX ou do XY vem acompanhado de outros cromossomos e as características transmitidas não param por aí. Mulheres líderes, dominam no público e no privado e em qualquer civilização. Quem quiser buscar diferenças, lidere seu discurso mas não cuspa em quem não o acompanha.

Quando eu me casei, há décadas, a lei não era clara o assumir os apelidos do marido. Mas eu, desde meus dez anos, já tinha definido que não mudaria meu nome se me casasse. Eu me diverti muito com namorados, quando eu puxava assunto com essa vertente, só para ter certeza que o cara era um bestunto. Um deles , engenheiro de trinta anos e eu com vinte, disse que o nome era um carimbo a ser colocado na mulher para mostrar que ela tinha dono. Quando retruquei que seria como um ferro em brasa nos animais, ele concordou. Pelo menos isso não deixou que eu me esquecesse dele. 

Eu me casei sem lorotas, sem vestido de noiva, sem que papai me levasse ao altar, sem ninguém levando alianças. Como meu noivo morava fora de Belo Horizonte, papai foi seu procurador. Nos preparativos dos papéis no cartório, papai estava comigo quando o tabelião perguntou como ficaria o meu nome depois de casada. Perguntei só para zoar, como assim ? Fiz que era burra. Ele explicou e explicou que a mulher mudava o nome com o casamento. Talvez não tenha percebido que estava falando com uma advogada. Quando, afinal, eu disse que ia manter o nome de solteira papai teve um troço. Dizia que eu estava insistindo no absurdo, que pensasse bem. Olhei fixamente para ele e perguntei se ele estava desconhecendo a filha que tinha. Quem sai aos seus não degenera. E, ele nunca mais tocou no assunto. É óbvio que eu havia conversado com Eldes  e ele me respondera, faça o que achar que deve, isso é assunto seu. E, olha que me casei três vezes, de uma só vez : Um no civil, outro no católico e outro no presbiteriano em um casamento ecumênico, com padre e pastor, com convicções diversas quanto o casamento. Poucos puderam  presenciar na vida uma coisa dessas, curiosa, no mínimo.  Durante minha vida, ter mantido meu nome inalterado, gerou situações interessantes. Um dia conto aqui para que percebam como a sociedade mudou. E, nunca fui para  jornal fazer escândalo. 
A busca pela igualdade, na sociedade e na civilização, tem várias frentes. Eu fiz a minha parte de muitas formas, contribuindo direta ou indiretamente.
Que venha o futuro no passo do cognitivo pessoal e coletivo. Paciência...