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quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

O fim do mundo

                                   
                                   
Acompanho, de longe, as manifestações de grupos feministas, algumas tirando a roupa, contra cantadas masculinas. Também, as manifestações contrárias e não são poucas e nem educadas. A guerra dos sexos e suas muitas batalhas continua, infelizmente.

Ontem recebi um telefonema e não sei se acho graça ou fico com raiva. Com o tempo passando, vamos deixando os percalços da mocidade e mergulhamos em um outro mundo mais sério e mais responsável. O humor e a tolerância não são tão fáceis como antes. Ou as coisas mudaram mais do que nós mesmos. Ou perdemos, pelo caminho, algumas lantejoulas da vida.

Outro dia, perguntei para meu filho se os homens não faziam mais fiu-fiu para as mulheres. Que antes eu ouvia tanto e hoje não ouvia mais. Ele deu uma risada e disse que eu não ouvia mais porque tinha envelhecido. Caramba! Respondi que se eu soubesse que eram para mim teria aproveitado mais.

De outra feita, Dra. Alda e eu, voltávamos para o escritório, passando pela Praça 8 de setembro ( Vitória/ES) quando  um mendigo imundo, com um fedor que chegou até nossos olfatos, sorriu com a boca desdentada  e disse qualquer galanteio. Alda ficou horrorizada e disse do absurdo de um mendigo daqueles soltar gracinhas para nós. Eu dei uma risada e disse que pelo menos um mendigo nos via com bons olhos. 

Penso que perdi meu bom humor, minha paciência com estas coisas. Pode ser  porque eu mesma tenha mudado, ou os costumes, o tempo ou pelos homens perderem a graça nos seus chistes , tornando-se grosseiros e passando dos limites.

O telefonema que recebi ontem, foi de um engenheiro solteirão, meu vizinho quando morei no centro de Vitória/ES, depois que Eldes morreu. Converso com ele esporadicamente pelo telefone e depois que vim para Guarapari o vi uma ou duas vezes porque tem apartamento por aqui. Nunca dei intimidade mas ele é do tipo que se dá de cortejador, elogia, todo meloso.  Quando  morávamos no mesmo prédio dele, evitava subir sozinha com ele no elevador para não precisar ser grosseira. Meus filhos sabem disso e quando ele me telefona é para dizer que não estou, que não sabe quando volto. Meu filho disse que nem pensa em ficar solteiro para não tornar-se esse cara.

Uma coisa é certa, os homens tem certeza que uma mulher sozinha representa uma andorinha no verão, exposta aos gaviões. Uns avançam e outros evitam, com medo da mulher avançar.
Ainda há que tenha a certeza que uma mulher sozinha é porque lhe falta capacidade de arrumar um homem. Daí as frases: Ela é mal amada, Ela precisa de homem. Não passa pela cabeça desses energúmenos que há opção de vida e que algumas prioridades humanas quando saldadas , ficam para trás.

O telefonema que eu recebi foi, depois de muitos elogios e loas, para convidar-me a passar um fim de semana com o cara em Vitória, com todas as mordomias. Que tudo seria como eu determinasse e com muito prazer. Ainda perguntou, mais de uma vez, se eu tinha entendido o que ele estava me dizendo. Se eu tivesse certeza que este  senhor entenderia minha pergunta, esta seria: - Cobra quanto?

Há muito tenho matutado sobre as manifestações, que parecem malucas, de jovens enfezadas. Aos poucos vou entendendo melhor porque as mulheres protestam, até  com passeatas e desnudas, contra as cantadas do homem contemporâneo. Se exageram no protesto é porque a mansidão já não faz efeito. Eu fui militante feminista mas as reivindicações eram mais intelectuais, e as reações à altura.
A gentileza ficou longe e as mulheres estão sendo tratadas sem respeito algum. Se algumas não se dão o respeito, há de se diferenciar umas das outras, como tudo na vida. Até onde vamos parar?

Detalhe, a frase não é A mulher não se valoriza. A frase é A mulher não se dá o respeito. Valor se dá a alguma coisa e mulher é pessoa, como todo ser humano. Mesmo que ela se dê como coisa ou o sistema avalize como tal.