- Se quer ver maior klika na foto. Chefe Boran cuidadoso com um dos filhotes, que começa a descer para os galhos |
Uma lição interessante vem do tratamento que Chefe Boran tem com seus filhotes.
Eu sei que ele é o chefe pelo olhar, porque nunca corre ao menor ruído, vive atento olhando pros lados e me encara nos olhos sem medo.
Com os filhotes é muito cuidadoso e assume carregar nas costas pulando de galho em galho. Como os mais velhos de dois anos, foram levados pelo pessoal do IBAMA, os que ficaram ainda são pequenos demais para carregar seus irmãos mais novos que estão com um mês. Notei que houve uma recusa ou não conseguiram. Então, ele foi obrigado a assumir sozinho.
O treinamento para sair das costas, pular nos galhos e voltar sozinho para casa é uma aula. Ele fica de longe, escondido e, mesmo que o filhotinho chore, ele não sai do lugar. Como nascem aos pares e andam juntos, tem sempre um mais espertinho que descobre como não ficar andando em círculos pelos galhos da amoreira. Eu vi Chefe Boran pegar cada um nas costas, uma vez, e mostrar qual o caminho a seguir. Não sei se ele fez isso várias vezes mas o vejo impassível, observando os filhotinhos, ir e voltar, até achar o caminho que é passando pelos galhos emaranhados do limoeiro e da sibipiruna da rua. Os outros pulam, direto, do muro para o tronco da sibipiruna.
Para começar a comer banana é muito interessante porque ele me vigia e não deixa eu dar pedaço grande e puxa o filhote quando come um ou dois pedacinhos. Parece que ele controla a quantidade de banana enquanto não estão totalmente desmamados.
Tem um deles, o que sobrou no par onde Tortinho morreu, pensávamos que era fêmea e demos o nome de Lili. Mas, ao descobrir que era macho, passamos a chamar-se Lilico. Este parece ser um tipo de batedor. Ele chega primeiro, procurando comida e dá o sinal para todos virem. Boran exige ser o primeiro mas deixa os outros pegarem um pedaço da sua parte sem perder a pose. Aquele que vem com tudo ele dá um chega prá lá e um grunhido, sendo obedecido. A princípio Chefe Boran mordeu meu dedo e não sei se foi por não saber pegar na minha mão ou se para mostrar poder. Deu uns tapas no Maurício e em mim talvez para exibir poder e comando, mas hoje são todos mansos. A convivência é boa mas eu não sei se ele são capazes de me reconhecer fora daqui. Não consegui determinar porque eles me olham quando passo lá embaixo na rua, assovio para eles, mas não me acompanham como fazem os cachorros. O mesmo assovio que eu uso para eles virem ao quintal e saberem que estão seguros; pelo menos é a minha intenção.
Eu já tive cachorrinhos mas hoje prefiro animais livres e soltos. Eu poderia pegar um deles para ficar comigo dentro de casa mas não o farei. Dá vontade de ter um sagui nos ombros, andando para todo lado. Mas precisamos vencer esse sentimento de posse, tão humano e tão inconveniente.
Passam aqui em casa na ida e quando voltam para casa, na sibipiruna lá do lote em frente. Às vezes entram em casa, até a sala mas é caçando, procurando insetos debaixo dos móveis, atrás das portas. A toca deles, é um cupinzeiro muito grande lá no alto da árvore, no lote em frente e que eles desativaram para fazer de casa. Também, tenho a impressão que, ao sentirem que está sendo feito o almoço, eles costumam aparecer para comer. De bobos não tem nada. Eu disse ao agente do IBAMA que é impossível não interagir com eles. Ele viu e aceitou a minha teoria. Não há saída... Na verdade a vizinhança toda interage com eles, sem muita disciplina mas quando dá na telha.
... Inté o próximo capítulo