Mostrando postagens com marcador Loteamentos uranos. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Loteamentos uranos. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Nunca mais

- O brasileiro merece desfrutar da brasilidade
                         
Não é verdade que a ditadura foi boa para o Brasil. Os simplórios, os provincianos, os de vida medíocre da casa pro trabalho, uma cervejinha no fim de semana e um futebol tricampeão, funcionário público e nenhum livro na estante de casa, os  que pouco observam para construção de uma nação podem ter esta ótica.

A ditadura fez a maior dívida externa do país. Delfim Neto, um dos Ministros da Fazenda da ditadura, e que devia estar na cadeia, dizia que só fica rico quem  faz empréstimo. Depois, paga quando puder. E a dívida do Brasil subindo e ele falando coisa sem coisa na televisão, sem mexer um músculo da cara. Paulista adora esse cara até hoje e quando ele aparece em algum debate, velho sem noção, tem gente que lambe as suas  botas. 
Ele criou um papel, Letra de Câmbio, e a gente investia. Eu mesma, professora primária, investi nesse negócio, e tinha dezoito anos. Antes da Bolsa de Valores que foi criada depois. 
Ele desvalorizou esse papel, da noite para o dia  e todo mundo perdeu dinheiro. Papai perdeu, tio Ovídio perdeu e eu, mocinha ganhando merreca, perdemos todos. E, ficou por isso mesmo.
Ele baixou o preço do dólar e todo mundo comprou e ele foi subindo o preço para incentivar a compra. De repente, da noite pro dia, o preço caiu quase a zero. 
Pra onde foi esse dinheiro?

Teve outro Ministro da Fazenda, Mário Henrique Simonsen, paulista famoso, bêbado de carteirinha a ponto de ter o olho empapuçado de tanto wisky, que criou uma lista de autorização para produtos importados e wisky estava nela. incentivou a compra de bônus da gasolina para ser devolvido a futuro. Nunca mais ninguém viu esse dinheiro. O cara não foi punido e nem cobrado.

Eu paguei, por dez anos, um plano de aposentadoria Montepio da Família Militar e quando era para eu começar a receber, simplesmente sumiram. Depois de muitos anos encontrei um escritório em Belo Horizonte, uma salinha escura em um prédio velho e um vagabundo, um safado, ao ser questionado por mim se devolveriam o que eu paguei ele riu e mandou eu entrar na justiça. Tudo na ditadura. Recentemente achei os carnês, sapateei em cima, de raiva e taquei fogo. 

A reforma rural foi feita a favor dos latifundiários, especialmente para estrangeiros e  que gerou a evasão rural, o inchaço nas grandes cidades para alimentar os trabalhadores da industrialização, fazer a diferença entre pobres e ricos aumentar cada vez mais, os semi escravos cujo ópio é o incomparável futebol brasileiro. Mas sem nenhum contraponto, fazendo nascer as favelas, as periferias, o Brasil periférico de onde vemos a criminalidade de hoje. De Brasil rural, em dez anos tornou-se Brasil urbano com hordas de desqualificados, trabalhando, vivendo e construindo uma nação subdesenvolvida que patina no lugar, sustentando os suseranos pós modernos.
Eu me lembro da luta do meu marido, arquiteto do plano industrial da Serra, município vizinho a capital Vitória/ES, ( E hoje homenageado com o nome da avenida principal) para implantar, junto com a indústria, a infra estrutura de casas populares ou loteamentos privados, vindo juntos com a urbanização completa, isto é, meio fio, ruas calçadas, iluminação pública, esgoto, urbanização prevendo escolas,  bairros planejados. Foi um dos que fizeram coro a exigências e que originou a lei que regula os loteamentos urbanos, na década de setenta.

Quando eu estava no terceiro ano da faculdade, UFMG, eu dava aulas, surgiu um carnê para pagarmos mensalidades. Eu ouvi dizer que, quem não podia pagar poderia conseguir dispensa do pagamento. Eu fui ao escritório do MEC, no Edifício Acaiaca, Av. Afonso Pena em Belo Horizonte/MG, mostrar que eu era professora e pedir dispensa no pagamento. Na entrevista falei que eu morava com meus pais. Então, o cara disse que precisava da declaração do Imposto de Renda do meu pai para isentar-me. Eu era maior de idade, papai não pagava nada para mim e muito menos pagaria minha faculdade mas o cara não quis saber.
As vezes eu penso que foi um sonho porque não recebi mais carnê e não paguei, nunca mais ouvi falar no assunto. Parece que foi algum golpe que eu cai, pagando algo que não devia pagar. Nunca mais ouvi falar disso. Coisa de maluco, de ditadura que fez e desfez sem dar satisfações.

Mas uma coisa que me impressiona até hoje, foi em  um carnaval, onde dançamos na Sociedade Mineira de Engenheiros, papai nos buscava no final da festa. Dias depois fiquei sabendo que Marília - minha colega do curso Normal do Instituto de Educação de Minhas Gerais - voltava da festa com o namorado Eduardo - depois eles casaram - e buscavam um taxi quando passou uma radio patrulha  do DOPS e os levou para serem interrogados. Ela disse que foi um terror, os dois jovens, voltando do carnaval e sendo interrogados aos gritos e nem sabiam sobre o que. Lá pelas tantas, um meganha   ( como eram chamados naquela época) passou as mãos nos seios dela. Realmente ela tinha seios bonitos e ele aproveitou-se e riram dela as gargalhadas quando ela começou a chorar e o namorado protestou, levou uns tabefes. Só foram liberados à tarde, quando a família dos dois buscaram " Mexer os pauzinhos"- ( Outra expressão da época) E, nunca se falou mais nisso...

Sem falar no meu tio, irmão do papai, que exilou-se no Peru, cassado os seus direitos políticos por dez anos, sabe-se lá porque. Disseram que ele fazia parte do Grupo dos Onze de Leonel Brizola. Ele era deputado estadual. Irmãos da mamãe foram presos em Juiz de Fora e , depois, absolvidos de acusações sei lá quais. Acho que eram do Partido Comunista mas absolutamente inofensivos antes e depois tudo no discurso apenas, como são os filhos até hoje. Uns ridículos, filhos e netos de um grande capitalista, grande industrial, um dos homens mais ricos  de Belo Horizonte e se dizem comunistas. Dá vontade de rir.

Ditadura sempre é ruim, e a bagunça, a falta de lideranças de hoje, o jeitinho e as carteiradas são frutos da ditadura. Nasceram com a certeza da impunidade, do vale tudo de quem podia mais e cuja maior representante é a Lei Fleury, feita para não punir um dos chefes de polícia mais truculentos da história e levou de roldão  outros tantos. E, prevalece até hoje, beneficiando a bandidagem gorda e amiga dos amigos. 
Para não falar na tortura, no pau de arara, na surra de toalha molhada, na prisão de alguém dedurado por vizinho ou companheiro de trabalho porque emitiu opinião contrária aos milicos. Só a frase Eu não gosto de milicos, era motivo de prisão, de perseguição, de dispensas do serviço. Os olheiros da ditadura, na faculdade, os jubilados por fazer protestos e impedidos de estudar em outra escola pública federal e por qualquer motivo. As matérias proibidas de serem ministradas como Ação Popular ou Mandado de Segurança ou Atos Institucionais nas aulas de Direito Constitucional. Aprendi sozinha porque nenhum professor ensinou em aula.
Portanto, não é verdade que só bandido era preso. A pessoa podia ser liberada tão logo prestava depoimento mas era conduzida como se tivesse que dar satisfações para meia dúzia de donos da verdade. Só pra tacar terror.

Hoje, muita coisa está superada. Lembramos da ditadura porque quem deu causa chegou ao poder e continua tumultuando o Brasil. Isso desde 64. Chega. Eu preciso conseguir sobreviver a essa gente arrogante que se acha dona da verdade e vem trazendo o país na barrigada, levando vantagem, recebendo muita grana e sem largar o osso.

Precisamos avançar. Ditadura nunca mais.