Mostrando postagens com marcador Médicos e deuses. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Médicos e deuses. Mostrar todas as postagens

sábado, 17 de dezembro de 2016

Fora do foco dos abutres

Alan Ruschel
                              
Desde a Copa, quando a Seleção estava eivada de ex brasileiros, não vi mais jogo. Chego até sentir-me mal ao ver alguma jogada. Ainda mais eu, que sempre gostei de futebol, sabia tudo de cor, acompanhava os campeonatos. Cheguei a ir no Mineirão várias vezes e torcer de ficar rouca. Acompanhava resenhas, debates sobre futebol. Mas o complexo de vira latas falou mais alto e o futebol brasileiro começou a perder suas características, a imitar os robôs dos campos impecáveis da zoropa.
Aqui, os times não são empresas mas agremiações e o futebol é o que é, entretenimento e brincadeira lúdica. Punir jogador que dribla, que faz zueira em campo, que comemora um gol sem noção alguma, ficou demais para minha cabeça. Trogloditas, impedindo que as pessoas comuns fossem a campo, torcessem sem sofrer ameaças de não chegar em casa vivo, campo de futebol tornar-se lugar de manifestação política grosseira e partidária de gente que defende a sua própria mediocridade e falta de educação... 

Quando eu li sobre o Palmeiras tornar-se Campeão do Brasileiro, ganhando apenas de um a zero do Chapecoense, fiz pouco caso porque estou desatualizada.

Então, vem a notícia sobre a queda do avião da Chapecoense e o drama instalou-se. Impossível ficar indiferente. Ainda mais quando sabemos que o motivo da queda foi resultado da pobreza, da miséria e da vontade de ter uma empresa aérea de sucesso. Um empresário querendo vencer na vida em um lugar onde ninguém consegue sucesso se não for dando nó em pingo d'água. E foi o que ele fez. E o avião estatela-se no chão matando tanta gente.

Quinze dias depois os sobreviventes brasileiros começam a dar entrevistas. A façanha, tão grande como a sobrevivência desse pessoal, é o magnífico trabalho de todos envolvidos na vontade de salvar um por um. Seis entre setenta e sete mas nenhum foi perdido. Todos estão lúcidos e vivos para contar para nós o que sentem, como foi. Saciar a curiosidade e a vontade de entender como tudo aconteceu. Esses profissionais mereciam prêmios de suas entidades de classe porque as enobreceram cem por cento. Em um tempo onde profissionais envergonham seus pares pública e historicamente, há de se aplaudir quem exerce sua função com saber e denodo.

Nem tudo está perdido nesse país onde a mídia preocupa-se em mostrar a sujeira, o lodo, a vergonha. Tem gente produzindo, estudando e não é somente nos grandes centros mas nos interiores do  Brasil, nos lugares longe dos focos dos abutres da nação.

Que alívio...
Quer saber ? KLIKA