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domingo, 5 de fevereiro de 2017

O cajado perdido

                         

Morrer faz parte de viver. Ninguém fica pra semente. A cada ano que passa o vivente fica mais próximo do fim. Ainda mais se tem algum órgão afetado por deficiência ou desgaste. É inexorável.

Então, porque uma mulher, esposa de um ex presidente da república, que levava consigo um risco iminente de aneurisma cerebral de cujo tratamento optou em não operar, quando morre  é motivo  de manifestação política? 

Porque era ela o fio condutor de toda a caminhada do marido que chegou a presidência da república sem saber fazer um zero com o copo. É só analisar as fotos, os momentos, os fatos, os depoimentos sobre sua presença e atos ao lado do Velhaco mais velhaco que a história do Brasil produziu.

Portanto, o Velhaco perdeu a referência, o cajado em que segurava para fazer seu caminho. Perdeu o brilho, o discurso.
É sabido que a falecida dava tudo nas mãos do Velhaco mais velhaco que esse país produziu. Até os sapatos dele  ela tirava, no papel maternal para o qual sua formação italiana e proletária foi criada. E, existe uma vertente  da imigração italiana ligada a extrema esquerda européia do final do Século 19 princípio do Século 20. No ramo italiano da minha família os comunistinhas ainda existem. Mesmo que desfrutem largamente do capitalismo e das benesses do sistema e nunca tenham feito um trabalho voluntário para tentar mudar o estabelecido de segregação social dos miseráveis. Tia Carmem, irmã mais nova de mamãe, dizia que faria opção pela direita só para ser diferente porque estava cansada do discurso vazio e sem sentido da família quando as mulheres eram mandadas para a vida privada e os homens para a vida pública.

Papai dizia que em família de italianos, os homens são criados para não fazerem nada em casa e as mulheres para servirem os homens. Ele que era brasileiro da gema e ficava espantado com a família de minha mãe e da diferença de criação. Na minha casa nunca permitiu que nenhuma de suas filhas levasse o copo de água para meu irmão como faziam na casa de minha avó.
Ainda na geração da falecida, e na casa de italianos, as moças ganhavam máquina de costura e os homens um pedaço de terra ou um lugar na empresa da família.
O Velhaco mais velhaco produzido pela nação brasileira migrou do nordeste para sumpaulo no pau-de-arara. A fome e a exclusão formou seu inconsciente. O encontro com a falecida desabrochou o discurso de quem tinha o dom da palavra, arma mortal nas mãos do político.

Portanto, quando a ficha cair, haverá reposição da peça perdida ou decadência total.
Aguardemos.
FHC deu o exemplo.