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quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Educação e ensino

Todo brasileiro é cidadão
                                     

Se o governo é defensor da Escola sem Partido, então não pode ter a disciplina  Moral e Cívica. Se o professor fica impedido de dar sua opinião sobre ética e generosidade, diferenças sociais e responsabilidade com o ambiente e a sociedade em que vive, será mero transmissor de conhecimentos. A educação intelectual é, também , responsabilidade do professor. Senão,   a internet já fornece sem ter necessidade de ir a escola.

Vou dar um exemplo: Eu dei aulas para escolas particulares, onde os alunos eram filhos ou netos de banqueiros, grandes empresários, industriais, dessa classe ricaça do judiciário, médicos podres de ricos, donos de jornal e televisão.

Eu percebia a inteligência dos meus alunos, crianças que tinham tudo, falavam dos  impostos de importação pagos pelos pais sobre os carros importados diretamente das fábricas, das viagens que faziam ao exterior, os motoristas buscando na saída da escola. Material escolar muito longe do que eu tivera ou tinha.
Assim, durante a aplicação das Unidades de Trabalho,  eu aproveitava para falar em generosidade, em compaixão com os que tinham menos oportunidades, promover pesquisas,  comentar sobre a pobreza de outras crianças que não podiam estudar, não tinham nada, a responsabilidade que eles precisavam ter, levando os estudos a sério porque  um dia iriam ocupar grandes cargos, ter poder de decisão, podiam interferir para melhorar o Brasil. Mostrar as diferenças, dos que  tinham todas as chances e os que não tinham. Debatia em que fossem  agente de mudança e melhorar a vida de outras pessoas, usar a cabeça para deixar rastro no mundo. Cabeça não foi feita para enfeitar o pescoço mas para pensar, decidir, fazer e acontecer sempre para melhor. Que ter dinheiro e poder sem trazer outras pessoas com menos chance consigo não valia nada. Eu fazia debates sem medir vocabulário e as professoras comentavam comigo que meus alunos falavam palavras que elas não empregavam. Tipo, em uma excursão em uma fazenda, na Unidade sobre Plantas, no mês de setembro, mês da primavera, meus alunos brigaram para ficar na janela.  Justificaram  a necessidade  de observar tudo para fazerem  o relatório depois. Quando a professora, espantada, veio conversar comigo, as crianças tinham seis anos, eu expliquei que foi consequência do nosso planejamento. Mais tarde, eu soube que essas crianças que eu ensinei a ler transformaram-se  em empresários responsáveis, políticos sérios. É verdade que um deles morreu em Nova York de overdose mas não faz diferença, eu lamento até hoje pois era alegre, brincalhão e nada caprichoso com seus cadernos e ria quando eu fazia minha colocações. Acho que já era um anarquista. Era filho do dono de uma balança famosa.

Então, discordo da política de Escola sem Partido, pois ela é radical e foca apenas no ensino acadêmico, sem nenhuma orientação social, moral e ética. Os conceitos, em uma escola, não podem ser únicos, blindar a inteligência aos outros olhares sobre a humanidade. Talvez o pulso dos pais é que esteja frouxo ou ausente, sem diálogo ou convivência. Ou as escolas não tenham orientação à altura do ensino, usando textos equivocados, sem a devida interpretação voltada para a diferença de conceitos em ensino universal. Uma escola  mostra para os pais, quando na matrícula, a orientação a que agrega os conhecimentos. Para isso, existem escolas ligadas a religião, a métodos diversos de ensino. Cabe aos pais escolher e completar em casa. Haver diálogo, atendimento das partes, decisões sem escândalos ou melindres. No que sai em desvantagem, os filhos de quem nunca leu um livro ou mal sabe interpretar um texto, restando a cultura popular, dificultando a acessão social e a distribuição da riqueza. Entendo que a desagregação da família, a falta da figura paterna   na responsabilidade da educação e da sobrevivência jogada sobre a mãe, em toda orientação, na manutenção do social em suas habilidades e atitudes, muito pior do que qualquer ensino moral e cívico das salas de aula.
Eu tive um professor meio comunista, no  Curso Normal,  e papai nunca deu autorização para visitarmos favelas, leprosários ou cadeias. Aproveitava para debater os motivos da recusa e isso foi produtivo, mesmo em confronto com os  preconceitos.

Portanto, apenas para meditar, dentro da realidade de cada um, espero que o brasileiro seja livre para escolher seus caminhos sem interferência de nenhuma ideologia pois são todas impositivas e nenhuma é certa ou errada. Cada um escolhe o seu caminho, mesmo sendo necessário conviver com as bobagens ditas no dia a dia. Minhas e dos outros.

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