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quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Feijão no fogo ...

- Papai com Fernando no colo, Maria Inês e eu. Mamãe é a da esquerda.
                                        Em frente a nossa casa em Belo Horizonte -MG.
                       
Uma coisa estranha no envelhecer é ter medo. Saber que o tempo passou e  não ter tempo para repor ou recomeçar, dá um medo tremendo.
Eu nunca tive medo de nada porque a vida estava inteira na minha frente. Infelizmente não sou do tipo que espera ajuda ou conta com alguém para ajudar ou proteger. Quando meu pai morreu, e hoje é a data a ser lembrada na saudade eterna, minha mãe perguntou-me quem iria protegê-la  dali para frente. 

Então, para mim, o pior no envelhecer é a sensação de que algo pode acontecer de repente e não ter tempo para resolver como sempre fiz. Todos passam por isso, na tranquilidade aparece de rompante uma notícia que pega a pessoa e quase a derruba. Alguns caem e não levantam  mas outros tem uma fortaleza que os faz recuperar e ir para frente. Eu não sei se é criação ou DNA mas desconfio que é o exemplo dos que nos são próximos. 

Quando acontecia uma morte repentina ou um  drama qualquer na nossa família, papai dizia:

- Feijão no fogo que os vivos tem que comer.


Papai não interferia na nossa vida a não ser que pedíssemos opinião ou ajuda. Ele dizia que pai é como Deus, só interfere quando é chamado. E tinha razão, mesmo que não seja verdade. Depois que papai morreu eu tenho a eterna sensação que algo falta na minha vida e tenho um aperto constante no peito, esperando algo ruim porque não o tenho para trocar idéias e preciso resolver sozinha.

Nem sei qual o ano que papai morreu porque datas não me interessam mas hoje 16 de agosto é o dia e mês. A vida não tem nenhuma importância porque não somos nada na ordem mundial mas podemos ser lembrados enquanto houver rastro.