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domingo, 5 de março de 2017
Nuvem negra no horizonte
Se tem um assunto político que me dá nos nervos, quase supito, é querer fazer do Brasil um parlamentarismo. Nem quero lembra-me do uso desse sistema de governo, para dar ponto sem nó, na época do Jango. Quem deu a ideia foi Tancredo Neves, assumindo ser primeiro ministro quando Jânio renunciou e a elite temia Jango no poder por ter tendências comunistas. A gambiarra foi feita, não deu certo, voltou-se atrás e acabamos com vinte anos de ditadura nas costas. Tancredo Neves nunca conseguiu ser presidente da república.
Volta e meia aparecem os com essa conversa atravessada. Mesmo havendo dois plebiscitos nacionais, dizendo não. Quem capitaneia o discurso são os paulistas. Com oitenta deputados federais e a conversa mole que carregam o Brasil nas costas, o resto do Brasil merece ficar sentado enquanto ocupam cargos de mando e usam os nordestinos para fazer nuvem de poeira no parlamento, escondendo falcatruas. Eles tem certeza que são merecedores.
Já foi o tempo em que MG produzia grandes pensadores na política. Com a ditadura, os paulistas acabaram com as únicas lideranças mineiras e impediram o surgimento de novas. O sistema permitiu preencher as vagas com jogadores de futebol, radialistas ou herdeiros mimados de antigos caciques de peso. Acabou e MG não produziu e não produz mais nada que preste. Já foi o tempo em que um mineiro na política era respeitado e até temido por sua ponderação e capacidade de compor e realizar. Hoje, nem isso. Só inventam formas de roubar o povo.
Eu já fui liderança política e participava muito de debates na televisão. Como tenho facilidade para expor minhas idéias e minha dicção é universal, sem nenhum sotaque identificável, eu fiz muitas palestras, também defendendo o presidencialismo. Em muitas delas, haviam na mesa de debates parlamentares ou executivos. Naquele tempo, lideranças populares eram ouvidas e filósofos do achismo passavam longe.
Então, uma noite, acompanhei meu marido em um coquetel político, em Vitória/ES, onde compareceram o governador, os senadores, deputados e uma gama grande de segundo escalão. Meu marido era do terceiro escalão. Estávamos nós, tomando um vinho branco e conversando, em um grupo de engenheiros e empresários quando o governador e um senador pararam na nossa frente. Interromperam a conversa e o senador dirigiu-se a mim, perguntando de onde eu era. Respondi que era de Vitória. Ele insistiu querendo saber onde nasci e fui criada. Quando eu disse que era mineira de Belo Horizonte onde estudei e que cheguei a Vitória já adulta e advogada, ele virou-se para o governador e disse:
- Não falei ?! Ganhei a aposta...
Então o governador me disse que o senador apostara com ele que eu era mineira pela minha postura política, típica dos mineiros, minha forma de argumentar, liderar, defender e conduzir as propostas do meu grupo. O senador replicou que os mineiros eram os maiores políticos que ele havia conhecido em toda sua carreira e sempre encontravam uma saída para os problemas do Brasil. Que enquanto o paulista sempre era o preferido para conduzir a área econômica, o mineiro era a saída para os impasses políticos. Que o dia em que Minas Gerais deixasse de produzir políticos o Brasil ficaria em uma encruzilhada.
Esse dia chegou.
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