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quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Cada um com a dor dos seus calos

- Um olhar desse derruba avião
                                   

Com a eleição de Trump para presidente dos EEUU, a caixa de pandora foi aberta. De dentro dela saíram os que usaram máscaras durante anos. Antes, parecia que o país era um exemplo de convivência em superação profunda de suas diferenças raciais e sociais. De tal forma que bestuntos brasileiros chegaram a pensar que no Brasil também há racismo e assemelhados. Não teem nem ideia do que é discriminação porque não há nada semelhante por aqui.
No Brasil as discriminações são manifestação de problemas mentais, comum em todos nós. Freud explica que toda pessoa discrimina alguém ou alguma coisa. Por exemplo, um metropolitano discrimina um interiorano, um sulista discrimina um nordestino, mesmo sem saber do que está falando. 

Esses intercâmbios que brasileiros fazem nos EUA são completamente diferentes quando se trata de discriminação. Alguns relatos de quem foi estudar nos EUA são de arrepiar os cabelos. Ouvi um pastor evangélico dizer, que só descobriu que era preto quando foi estudar nos EUA. E, pasmem, quando descobriu que não era branco, ao voltar, foi um dos fundadores do Movimento Negro do ES.

Eu fui uma vez aos EUA. Costumo dizer que não fui aos states mas a Graceland. Para quem não sabe, é a casa onde Elvis morou e está enterrado. Fica na cidade de Memphis, no estado do Tennessee. Não fiquei focada somente na casa mas no circuito onde Elvis viveu, para entender melhor sua música e seu comportamento como sulista convicto. E, aproveitei para visitar lugares ligados à Guerra de Secessão, que eles chamam de Guerra Civil como museus históricos ligados ao assunto, por exemplo.

Fiquei lá quinze dias mas foi o bastante para sofrer discriminação nas lojas, no hotel, na lanchonete  e, principalmente, no restaurante.

Pode se dizer que no hotel e nas lojas tenha sido grosseria deles. Na lanchonete, onde chegamos para comer algum sanduíche típico, queriam nos colocar em um cercadinho onde só tinha latinos. Os pretos estavam em outro cercadinho assim como os brancos  em outro.
Quando a pessoa chega em uma lanchonete, tem uma corrente estendida, barrando a entrada. Então chega um empregado e encaminha a pessoa para o lugar. Eu desconheci ela levar para o lugar dos latinos, fingi que não estava entendendo e me dirigi para uma mesa que estava vazia, logo na frente. Os outros me seguiram e uma paulista chamada Jacqueline, muito nervosa, dizia que tínhamos que sentar onde  o empregado indicava. Só depois eu vi que estava na área dos negros. Nem me lembro se alguém achou ruim  mas ninguém mandou sair. Lanchamos numa boa.

No restaurante, a gente pegava uma bandeja, o prato e os talheres e escolhia a comida que estava em uma vitrine em tabuleiros, sendo servidos por gente do lado de dentro. Do tipo das cadeias mostradas em filmes. Eu apontava a salada, o arroz e uma posta gorda de peixe sapo, do Rio Mississipe, uma delícia que me dá água na boca só de lembrar. Não havia pesagem, não havia preço afixado e só o peixe vinha no prato. Os outros ingredientes vinham em cumbucas e em quantias aleatórias. Na hora de pagar, ao perguntar o preço fui tratada muito mal, de forma grosseira quando o preço devia estar afixado. Paguei o que a moça me pediu.

Em um desses almoços, ao apontar os ingredientes, a moça, preta como o teclado do meu computador, deu uma risada, falou qualquer coisa. Eu não entendi e insisti, ela não me atendeu e a fila empacou. Quando pedi socorro ao guia, ele disse para eu pedir de novo e eu o fiz. A moça, peitudíssima e gorda, ( São gordíssimos a ponto de andar em cadeiras de rodas) voltou a falar algo e não me serviu. O guia então me disse que ela estava me discriminando e dizendo algo feio sobre os latinos. Eu nem me lembro o que foi porque imediatamente pedi para falar com o gerente. O guia perguntou quem era o gerente, ele veio e , ele mesmo, serviu o meu pedido. Então a fila andou, com todo mundo espantado e dizendo que se fosse no Brasil ela seria presa, que não bastava sequer não sabermos  o preço da comida ... 

Ao comentar, já no Brasil, com minha irmã que era psicóloga, ela disse que ela discriminou o latino porque é discriminada pelo branco. Devolvia na mesma moeda. E, eu pensava que era branca, talvez parda, quem sabe brasileira típica e descobri que sou latina.

Em assim sendo, nada de lá é como aqui. Nem o tamanho da discriminação, do ódio aos semelhantes e na defesa da cidadania. Porque, se eles tem pavor de um ataque vindo de fora, com certeza sabem que existe mega ataque vindo das vizinhanças com hordas de miseráveis, abandonados em seus países mas querendo beliscar o que construíram. 

Cada um sabe onde lhe apertam os calos ...

Não sabia? Então klika

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