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sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Os podres da Dinamarca

                                                                   

Eu me lembro de todos dizerem que o governador era venal, corrupto, ladrão. Eram dizeres soltos liderados por quem ele recusou-se a atender exigências. Outro poderoso com muito mais prestígio e em campanha acirrada, durante toda a gestão, sem reeleição. Nem tentou. O poderoso perseguidor vivia de bilhetinhos, pedindo favores para os amigos. Os inimigos? A lei.

Eu ocupei cargo público de confiança e foi ele quem me admitiu. Quando quiseram que ele me exonerasse, ele recusou. Quem me contou foi a própria pessoa que foi pedir minha cabeça. Já havia má intenção em me afastar porque, anos depois, perdeu seu cargo de deputado estadual e tornou-se ficha suja. Jamais pediu-me qualquer favor, por menor que fosse.
Entretanto, recebi telefonema de promotor de justiça  metido a vestal, de mais de  um desembargador, de mais de um foro, caladões e circunspectos. Todos pedindo merreca mas empoados do poder. A todos respondi que em ato jurídico perfeito não se podia mexer. Tornaram-se meus inimigos. Deixaram, até , de me cumprimentar. O ex governador foi execrado como corrupto e morreu de tristeza.

Portanto, gente que navega sem saber o que se passa, pedir favor por estar nadando em águas tranquilas ou navegando em céus de brigadeiro é a coisa mais comum do mundo.

Um exemplo, levei para registrar em um Cartório de Registro de Imóveis uma Carta de Sentença. O ato jurídico a ser feito era simples averbação de dez linhas. Levou três meses, noventa dias. O mundo parado, negócios e refregas. Cobraram e foi pago no dia do pedido, setenta reais. E só liberaram quando ameacei fazer representação na Corregedoria. Disse que não seria pago sequer um tostão furado a mais do que estava na tabela.

Há muito mais coisa podre no reino da Dinamarca.