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sábado, 26 de março de 2011
O torturador surtado
Quando levo Brisa para passear, ao cair da tarde, encontro-me, nesta época do ano, com um senhor carioca que, também , passeia com o seu cão.
Todos que possuem cães sabem que há uma conversa jogada fora entre donos de cachorros. A maioria das vezes é sobre o tempo, o calor ou acontecimentos da cidade.
Hoje, enquanto eu conversava com este senhor, chegou outra vizinha, voltando do trabalho e a conversa correu solta. Nem sei porque ele contou que foi policial, no Rio de Janeiro, e fez , na época, interrogatório dos comunistas da ditadura.
De repente, ele se inflamou ao dizer que odiava comunistas e que sabia tocar no corpo humano para fazê-lo sofrer sem deixar marca alguma. A minha vizinha tem vinte anos e, eu acho, que ela não percebeu do que ele falava, exatamente. Contou que estudou anatomia nos EUA, na década de sessenta, apenas para saber os pontos onde o ser humano perdia o controle sobre seu próprio corpo.
De repente , eu estava em frente de um torturador da época da ditadura. Um homem comum, um senhor a passear com seu cachorro poodle e que mantinha o mesmo ódio da época da mocidade.
Não houve diálogo. Eu tentei mas ele começou a citar o SNI , as fichas da Dilma, do José Dirceu. Me deu medo frente sua fúria. Só deu uma pausa e perguntei se ele lembrava-se como as mulheres eram tratadas naquela época. Se ele acreditava que aqueles comunistas iam colocar moças de dezoito anos na linha de frente. Se ele não achava que elas participavam das reuniões mas , na verdade, mais faziam a comida do que saíam para o enfrentamento. Se ele, relmente, acreditava que Dilma assaltou algum banco.
Ele me olhou muito fixamente e disse que ela foi presa no Aparelho e que ia pensar sobre isso e que amanhã continuava a conversa.O espírito saiu dele , acalmou-se, despediu-se e desceu a rua.
Minha jovem vizinha não entendeu nada da nossa conversa e eu fiquei com preguiça de explicar. Cada uma tomou o seu caminho.
Amanhã é outro dia...
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