Os turistas estão chegando. Enquanto vão para fora do país, são como viralatas. Mas quando viajam pelo Brasil são cachorros loucos. Lá fora, andam com o rabo entre as pernas, submissos e subservientes aos estrangeiros. Aqui dentro, são de cidades maiores e querem impor suas práticas, muitas vezes nocivas. Furam filas nos bancos e supermercados, falam alto e acham que o rítmo do trânsito deve ser marcado por suas buzinas nervosas. As bestas , supostamente mais avançadas, em vez de diminuirem a correria porque estão de férias, querem desancar os naturais em sua vidinha mais lenta.
Não é raro, turista escondido em seu carrão, querer passar por cima de todos, quando é impossível pois em Guarapari pedestre tem prioridade máxima. Faixas brancas existem em praticamente todos os cruzamentos e aqui funciona. Não é que, um turista nervoso, buzinava tanto que eu fiz sinal para ele passar por cima. Foi o que bastou para ele colar na traseria do meu carro. Eu, então, vi um espaço de garagem , embiquei nele. Afinal, o cara poderia estar com vontade de fazer coco e isto é coisa urgente. Mas não era pois ele parou colado e esperou até que eu arrancasse. Ao que ele me seguia, percebi que o objetivo era amedrontar-me. Nos meus bons tempos, pararia o carro para perguntar se ele tinha algum recado. Mas estou onça sem garras, sem forças para brigar como antes. Fiquei mansa, mansa. Mesmo assim preparei-me para morrer pois não é assim que acontece nas grandes cidades ?
Na reta da minha rua, diminui a velocidade e ele continuava colado na traseria do meu carro. A adrenalina da minha raiva era tanta que se ele dissesse AH, nem sei o que faria. Ao virar à esquerda e entrar na minha rua, entretanto, o carro continuou rua afora, buzinando desaforado.
Se ele pensou que eu estava com medo dele enganou-se. Eu estava com medo de mim mesma.