Bebida nunca me fez bem. Bastava eu tomar uma caipirinha ou uma latinha de cerveja para passar mal. Chegava a vomitar na escada lá de casa, quando voltava de uma festa ou de um barzinho. Papai nunca duvidou quando eu dizia que não havia bebido. Provavelmente, porque ele me via nas festas ou nos fins de semana onde todo mundo enchia a cara e eu não.
Assim, quando eu tive um surto de gota, há uns dez anos, não pude acreditar quando o médico fez o diagnóstico. Eu me espantei e disse a ele que eu não comia fritura há anos, nem carne vermelha. Minha comida é natural e quase sem sal pois me faz mal. Então, ele olhou-me com ironia e perguntou se havia alguém com gota na família. Todos da família da mamãe tinham ou tem gota. Tio Manolo, às vezes, sequer podia andar.
Mas não é a alimentação o principal que me dá gota mas a falta d'água. Segunda-feira precisei ir a Vila Velha e saí cedo. Não bebi água e suei como sua-se nesse lugar. Conclusão, tive um surto com manifestação na minha mão direita. Quando não bebo água eu sinto que estou batendo pino. Mas é tanta coisa para olhar, tanta responsabilidade que alguma coisa se perde. Como eu ia ficar andando de um lado para outro não bebi água para não precisar ir ao banheiro.
Agora, tenho uma noção do que irá me matar. É que eu penso de como vou morrer e deve ser de algo oriundo da minha má fabricação de ácido úrico.