A vida continua |
Busco há muito uma foto do início do Século XX onde aparecem mais de cinquenta pessoas e meu avô, quando era um rapaz. Uma foto grande, emoldurada em uma cartolina, preto e branco. Uma relíquia por si só. Alguém da família ficou com ela.
Essa foto , me foi mostrada por Vovô Vicente, meu avô paterno quando eu era uma adolescente e conversava com ele sobre a vida, o tempo e a morte. Ele disse-me que todos da foto haviam morrido, menos ele. Era o único sobrevivente. Não me lembro da idade dele quando ele mostrou-me a foto, ainda mais porque ele morreu com mais de cem anos. Impressionou-me tanta gente ter morrido antes dele. A ele também.
Essa conversa, tida com vovô, foi tão proveitosa que desde então a passagem do tempo e a morte não me abalam como acontece com muita gente. E, ajudou-me a enfrentar as perdas importantes que eu tive, comum a todos mas que levam alguns à loucura. Não que o inconsciente não produza seus resultados e os baques aconteçam sem nenhum controle racional. Mas sigo em frente, aceitando a realidade, chegando ao ponto de não entender o desespero de algumas pessoas ante os percalços da vida.
Dezembro é um mês marcante para mim. Aconteceu tudo de bom e tudo de ruim, sem distribuição pelos os outros onze. Mas a Terra continua a rodar e o tempo a fazer seus estragos e alegrias. A vida continua. Quem vive ou quem morre não faz a mínima diferença. Nem os arrogantes que se arvoram a ser videntes do bom e do mal sem conhecer nenhum dos dois.
Que venha o carnaval. Nós aqui continuamos misturando tudo.
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