sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Meta de vida

                                       

Velhos tempos
                                                   Gary Cooper KLIKA

 A medida em que  envelhecemos, todos ao  redor e do seu tempo  envelhecem juntos.  Se sobrevivem às mazelas,  doenças, à vida desregrada ou cheia de vícios, seguidos pelas drogas, bebida ou cigarro as doenças aparecem, vergam e tornam a  pessoa intratável. A mesma  diferença na medida de cada um quando jovem. Mas  fica mais  forte nas pontas disfuncionais da maturidade. O quê é desculpável na mocidade, ninguém mais  tem  paciência quando se torna o velho. Eu tenho uma vizinha de rua,  Dona Cinira, que é a minha meta. Ela nasceu em 1923 mas aparenta ter sessenta. Pequena, natural de Curitiba-PR, só parou de viajar pelo mundo por conta da peste chinesa. Outro dia, em pleno confinamento, eu a vi tomando Sol de maiô no jardim da sua casa. Corpo melhor do que o de muita mocinha. Caminha sozinha para fazer compras na feira, no supermercado. Volta carregando as sacolas, subindo a ladeirinha da rua. Nunca a vi reclamar como os outros que fazem o mesmo trajeto. Na praia das Castanheiras, tem suas amigas e lá as encontra, cotidianamente,  para conversar.  Quando o filho único, cheio de manias, cria problemas ela passa uns dias com alguma amiga que mora sozinha. Sempre disposta e acessível para  conversar. Está lúcida quanto os problemas do Brasil e do mundo, debate com inteligência, sem paixão. Tem computador, sabe usar e a informação está em dia. Há alguns anos duvidei da sua idade e brinquei  que ia pedir provas. Se fosse outra sem inteligência e percepção, poderia ter se ofendido. Mas Dona Cinira, dias depois, me chamou no calçadão para mostrar sua carteira de identidade.

Então, quando vejo esse pessoal envelhecendo como se fosse um pano que se esgarça pouco a pouco, tornando-se intratável, pele rota, olhar enfurecido com tudo e todos, com rancores, incapaz de entender o outro, as diferenças, ter generosidade com o  alheio porque preso no seu círculo, sem paciência com as novidades, com as mudanças, com o vai e vem da vida, sem entender o tempo, o tudo passa, lembro-me de Dona Cinira com sua pele de moça, corada pela cor única de Guarapari, sempre disposta, alegre e gentil, pronta para um dedo de prosa. Semana passada ela disse que envelhecer é muito ruim. Então notei que ela estava de prótese na arcada dentária superior. Ela é fenomenal ! É  minha meta de vida. 

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Um comentário:

FABIOTV disse...

Olá, tudo bem? Talvez a Covid-19 não tenha se originado na China... Bjs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br