Apareceu na minha vizinhança uma família, vinda do interior da Bahia. O cara traz seus cachorros para fazer cocô na grama em frente da garagem da minha casa. Eu pedi a ele que recolhesse porque se ele não o fizer, eu terei que fazer. Ele nem tomou conhecimento.
Então, toda manhã, a esposa dele estuda com o filho e grita, xinga, diz palavrões e berra "presta atenção". Um dia, dois dias, três dias você aguenta mas todo dia vai dando nos nervos. Ainda mais porque não é assim que se ensina uma pessoa.
Então, quando eu estava molhando minhas plantas, o camarada sai na rua com os cachorros. Até então, eu não sabia que a gritaria era do apartamento dele. Cumprimentei e perguntei se ele sabia de qual apartamento a mãe estudava com o filho e ele respondeu que era dele.
Eu lhe disse que ouvia a mãe, estudando com o filho. Falando junto comigo ele disse que o filho não prestava atenção e que eles tinham vindo do interior da Bahia onde o ensino era mais fraco do que o daqui. Que o menino ficou seis meses sem estudar porque não havia vaga. Que a mãe não tinha paciência. Eu respondi que não era impaciência mas falta de conhecimento de como ensinar e que haviam métodos diferentes para cada tipo de inteligência.
Pois é, por isso mesmo queria me oferecer para estudar com a criança toda manhã até ele pegar o prumo. Que isso não ia durar nem vinte dias. Era só detectar as falhas, os conceitos mal dados no português e aritmética. Expliquei a minha experiência e que eu com dezesseis anos já dava aulas particulares para crianças com dificuldades no aprendizado, depois fui professora. Que o menino ia dar um salto. Ele perguntou qual o preço e eu disse nenhum. Se ele quisesse podia aparecer as nove horas da manhã seguinte.
Na manhã seguinte eu estava a postos, fui até o portão para facilitar e, até hoje, não veio ninguém. Já o vi, depois, com os cachorros e cumprimentou sem levantar a cabeça.
Quando eu fiz o Curso de Formação para professora no Instituto de Educação de Minas Gerais eu li, tirado da biblioteca, Os Quatro Gigantes da Alma do espanhol Myra e Lopez. Um dos melhores livros que eu li na minha vida. Cala fundo no aprendizado da pessoa e sua composição e facilita a compreensão do magistério. E, vivendo esse episódio, lembrei-me que o ser humano não mudou quase nada pelos séculos afora.
Uma pessoa é medíocre porque não sabe aproveitar as oportunidades. O cavalo passa encilhado e a pessoa não monta. Como um pai desdenha uma ajuda para seu filho e que não traria nenhum prejuízo, nenhum esforço a não ser atravessar a rua?
As diferenças individuais é que trazem as outras diferenças, sejam quais forem. Fiquei agoniada com essa família e o que me deixa tranquila é que eles irão embora e nunca mais vou saber no que foi a vida dessa criança.
Nota: Myra e Lopes? KLIKA
Nenhum comentário:
Postar um comentário