- Você escolhe o lado da felicidade |
As pessoas não falam. As pessoas não denunciam. E, não o fazem porque sofrerão retaliação. Quem sabe até perseguição pelos próprios companheiros beneficiados. Ainda correm o risco de serem tidas como criadeiras de caso, implicantes, chatas, X9, dedo-duro, judas. Pior, correm o risco de inversão do foco se a denúncia atinge poderosos ou interesses inconfessáveis. Perder o emprego? Com certeza.
Quando se tem a maldita vocação para ser advogado, o impulso precisa ser controlado como se fosse um vício.
A primeira vez em que levei ao conhecimento do que se passava eu devia ter seis anos. Fui excluída e nunca disseram o motivo. Só em adulta percebi porque lá em casa me perguntavam o que tinha acontecido e eu não sabia. Depois foi como professora primária recém formada. Fui mandada embora e minha vingança é que a escola faliu, poucos anos depois. Se tivessem me escutado poderiam ter ido em frente.
Em associações estudantis ou religiosas, que eu sempre busquei porque gostava de participar desse tipo de coisa, preferi me afastar. Talvez por afastar lideranças com seus abusos, faltam lideres no país. Não eram abusos sexuais mas de poder.
Quando já advogada, um episódio entre tantos, foi porque recusei-me fazer constar em ficha a raça do cliente que eu atendia na defensoria pública. O energúmeno exigiu que eu pedisse minha exoneração. Recusei-me. Que me exonerassem. Fui exonerada sob ameaça de processo administrativo e nem sei com que alegação. Nem me interessei, virei as costas e ponto. Talvez por meus argumentos quando não medi as palavras e devem ter pensado que eu desafiava o Movimento Negro do qual o chefe fazia parte. Fiquei tranquila porque não me vergo. Fizeram aglomeração na porta, em protesto. Pessoas que souberam e que eu havia resolvido seus casos com simples telefonema quando batiam cabeça atrás de soluções, andando dali praqui. Eu apenas soube. Que se danassem todos. Eu, viúva com dois filhos adolescentes e eles sem dó. As ameaças não se concretizaram e eu cuspi de nojo do boçal. Imagine que bobagem! Mesmo porque nem eu sei que cor eu tenho pois quando, com onze anos, fui tirar Atestado de Boa Conduta, o cara colocou cor parda e eu perguntei a mamãe que cor era aquela. Era a cor do papel que embrulhava o pão.
Desde então, recuso-me a aderir a essa conversa de cor, raça, origem, importada da zoropa pois brasileiro não tem cor, não tem raça e tantas origens que não sabe dizer. Brasileiro somos todos nós nascidos e misturados, formando uma novidade que os estrangeiros ouvem cantar o galo mas não sabem aonde.
Portanto, eu entendo perfeitamente o medo e a omissão de tantos atletas nacionais ou estrangeiros em não fazer denúncias de nenhum abuso vivido. E, com certeza não é somente o sexual mas as físicas e incluídas as humilhações para melhor rendimento. Precisa ser maluco e nascer sem medo e, mesmo assim, preferir viver sem as lantejoulas da civilização porque o sistema é forte para proteger poderosos e duvidar dos fracos. As necessidades colocadas no desempenho moldam tudo. E, os fracos não sabem reagir, não têm forças. Ou não podem. Sejam jovens ou adultos. Quando não preferem a própria morte. Mas este já é outro assunto...
Está por fora? Então, KLIKA
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