Chamar
Paulo Freire de energúmeno é exagero. O que ele prega não é nenhuma sandice.
Quando ele diz que o sistema impõe suas teorias como camadas no cérebro das pessoas, pouco a pouco, vai formando um cérebro fragmentado a serviço dos poderosos, é verdade. Ele nem foi o primeiro. E a tese não tem lado nem escolha.
O complexo de vira-latas do brasileiro é construído em estrutura firmada nas teorias estrangeiras e a seu serviço. Ele busca reformular o lugar do brasileiro comum e sua forma de vida.
Muito mais do que nas escolas públicas, as escolas da elite contém linhas de raciocínio, que levam à certeza da inferioridade do brasileiro. E que, sequer vale a pena fazer das escolas públicas algum exemplo de aprendizado e ciências, empregar verba e professores bem remunerados porque a gentinha não tem cérebro para captar as finezas da filosofia e do pensamento abstrato, o sofisticado do primeiro mundo.
Enquanto o primeiro mundo não estuda detalhes de outros povos e até os desprezam, obrigam o estudante brasileiro a estudar história da Rússia, da França, formação da Inglaterra e o raio que o partam. Na matemática preferem ensinar de acordo com técnicas e ensino estrangeiro sem respeitar a cultura nacional. Que decorem, que se percam, que vão fazer massa para construir seus monumentos, a riqueza roubada dos impostos.
Paulo Freire inventou um método de Alfabetização de Adultos que promete alfabetizar em 45 dias. A aplicação é baseada no vocabulário do aprendiz e uma espécie de método global, isto é, não é silábico mas com palavras, frases e texto pronto pelo professor, adaptado a realidade do aluno.
A primeira vez que eu fui ao Projeto Rondon, ainda na ditadura, fui como professora. Depois fui como estudante de Direito. Mas nessa primeira vez, fiz um curso de Alfabetização de Adultos para poder aplicar no local em que eu iria. E apliquei em
Itinga / MG.
É verdade, eu alfabetizei em 30 dias pessoas mais velhas, que tentavam ler desde crianças. Com a mão dura pelo trabalho manual, mal conseguiam segurar o lápis. Depois recebi cartinhas delas. Meus filhos, crianças de vizinhos, empregadas domésticas, até em construção civil eu apliquei o método depois do serviço e no local do trabalho. Não tem erro. A pessoa aprende mesmo.
A irmã de uma empregada que eu tive veio da roça para passar uns dias com a irmã na minha casa. Tinha dez anos. Quita. Fiquei sabendo que não ia a escola porque não aprendia a ler. Como assim, não aprende a ler ? E ela: A professora disse que eu sou
ruda. O quê ? Ruda ou rude, ou burra?
Em vinte dias a menina aprendeu a ler. Mesmo que no começo dissesse: Eu sou ruda, não aprendo. Eu disse a ela: Não sou sua professora, não ligo para o que você pensa e faz. Se você fala, entende o que eu digo, as coisas a seu redor você é inteligente e vai aprender. Chegou a chorar com lágrimas borbulhando, descendo pelo rosto. Não cedi. Ela aprendeu. Sua alegria foi imensa. Eu a perdi de vista. Tenho saudades até hoje.
Minha neta não aprendia a ler, a mãe desesperada já estava dando tapas na menina. A professora pediu para levar ao oculista, ao psicólogo, fazer teste de inteligência. Ela veio passar as férias comigo no mês de julho. Vinte dias.Voltou alfabetizada. O pessoal ficou doido. A avaliação do mês de junho para o mês de agosto nem parece ser da mesma aluna. Até hoje ninguém entendeu nada.
Portanto, só por esse método que alimentou o
MOBRAL e salvou tanta gente do método absurdo da silabação, importado do estrangeiro, da França, dos EUA, ele deve e merece ser respeitado. Ter visão diferente de mundo não dá o direito de hordas de sabidos saírem do anonimato e falarem mal dele, do que pensava e escrevia. Usei outros métodos de alfabetização e sei a diferença.
Vão dar aulas, ensinar a ler, depois falem bobagens.
Se interpretaram mal seus ensinamentos e usaram para dominar as massas, isso é outro assunto.
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Para muita gente, esse é o brasileiro. |
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