A história do Brasil não tem registro acessível ao povo brasileiro. Óbvio que existem os jornais da época dos fatos e acontecimentos, embora viciados de opiniões, nem sempre isentas como deve ser o jornalismo.
Mas, feliz ou infelizmente, ainda há gente viva e lúcida para relatar o que se passou na época da ditadura militar. E, que não seja jornalista perseguido pela censura e, portanto, cheio de mágoa e com ótica distorcida, procurando ser vítima ou herói de resistência.
No final dos anos sessenta do século passado, ocupações em escolas e universidades eram tratadas como invasões. Os alunos comunistas, os inocentes úteis e os revoltadinhos invadiam as escolas públicas e universidades, as salas de aula para dizer seus discursos, tumultuar a vida acadêmica e atrapalhar quem queria estudar.
Quando invadiram o Colégio Estadual, em Belo Horizonte/MG meu irmão cursava o Científico e foi impedido de sair. Papai teve que ir no local para que a polícia o liberasse. Ele não era participante. Disse que os invasores mandaram todos fazer xixi em uma lata para, depois, jogar na polícia. Papai estava esperando Fernando ser liberado e um jato de xixi pegou nele.
Eu fazia o primeiro ano de Direito, em Belo Horizonte, na Praça Afonso Arinos e só havia a Federal em Minas Gerais, Lembro-me de ir ver os estudantes do quarto e quinto anos, os mais salientes fazendo discurso. Um deles Oswaldo, depois casou-se com a filha de um professor catedrático, rico e poderoso e foi dar aula no Rio de Janeiro, na Federal, nos anos setenta. Ela era minha colega de turma.
Outro era chamado de Cambraia, sobrenome,do quinto ano, oriundo de Uberaba e aproveitava para pregar a separação do Triângulo Mineiro para formar um novo estado. Não sei que fim levou porque era formando. Foi a primeira vez que eu ouvi falar a frase Uberaba Terra do Gado, pois ele dizia no seu discurso.
Eu ficava por ali porque tinha ido à aula na parte da manhã pois dava aulas à tarde e não podia perder tempo para ver a bagunça. Mas alguns colegas aderiram, chegaram a participar da UNE, do seu congresso onde todos foram presos. O presidente da UNE era meu colega de sala e namorava a moça mais bonita da turma. Ele sumiu e, portanto, não se formou conosco. Não me lembro o nome e nem que fim levou.
Um colega torturado quando preso no Congresso da UNE, não queria comentar sobre estes fatos, anos depois. Mas insisti, quando o encontrei em uma comemoração anual de formatura. Então, disse apenas que mandaram ele ficar em pé, em cima de uma lata sem poder cair, horas a fio. E, que sentira-se um idiota por ter acompanhado os comunistas sem nada a perder.
As aulas de Direito Constitucional eram superficiais, com nova Constituição da ditadura, Atos Institucionais, Cassação e insegurança dos professores. Alguns alienados, faziam perguntas para aprofundar na matéria mas nunca havia retorno.
Qual o resultado disso tudo? O Ato Institucional Número 5, de dezembro de 1968 e que lançou o Brasil em uma ditadura de quase vinte anos.
Então, é bom ficar atento e observar os motivos por que o Velhaco ainda não foi preso. Alguns líderes das invasões dos anos sessenta estão vivos e em atividade. Alguns estão presos mas não mortos. Com certeza continuam tal como foram e dando ordens de dentro da cadeia. Bestuntos seguindo. Muitos militontos daquela época estão debaixo da terra. Pagaram com a vida por nada.
Mas os líderes principais e que obtiveram sucesso estão aí, com os bolsos cheios do dinheiro roubado do povo que eles queriam libertar da miséria e do atraso. Queriam implantar uma ditadura alinhada com Moscou. Caíram, afinal, o tempo passou mas eles continuam os mesmos, pagando para ver o circo pegar fogo. Mesmo que do fundo da masmorra. Os canalhas também envelhecem.
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